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Mais rápido do que a luz

Renato Sabbatini

Uma das descobertas mais impressionantes e significativas da física é que a velocidade da luz é constante e finita (cerca de 300 mil km/seg no vácuo). Também sabe-se que não é possível existir no Universo nenhum movimento de matéria ou de energia que atinja uma velocidade maior do que essa. O genial físico alemão Albert Einstein chegou a essa conclusão através da matemática (teoria da relatividade), mas posteriormente comprovou-se experimentalmente que ela é verdadeira.

O fato de existir uma velocidade limite no Universo cria algumas situações bizarras. Por exemplo, imagine dois foguetes deslocando-se em direções opostas, cada um deles com 70% da velocidade da luz. A velocidade de afastamento de um relação ao outro, portanto, teoricamente seria a soma das duas velocidades, ou seja, 140% da velocidade da luz. Mas isso não é possível, então eles se afastam à velocidade da luz, como conseqüência sofrendo deformações do comprimento um em relação ao outro!

Outra conseqüência interessante da teoria da relatividade é a contração e a expansão do tempo que ocorrem quando se acelera um corpo a grandes velocidades. Por exemplo, se um astronauta estiver a bordo de um foguete viajando em velocidade próxima da luz, a passagem do tempo à bordo será contraída em relação a um outro sistema que estiver parado ou viajando a uma velocidade bem menor (por exemplo, o planeta Terra). Assim, o tempo à bordo parecerá estar passando normalmente para o astronauta, mas para os seus familiares e amigos na Terra estará passando muito mais depressa, em relação ao foguete. Se um dia ele voltar, será como se tivesse viajado para o futuro.

Portanto, o resultado inescapável das equações de Einstein é que se algo for deslocado a uma velocidade maior do que a luz, a passagem do tempo se inverte, e passa a ser negativa, equivalendo a uma viagem ao passado. Isso romperia a lei principal da natureza, que é a da causalidade, ou seja, um efeito não pode ocorrer antes de sua causa (por exemplo, uma bola de futebol chegar ao gol antes de ser chutada...). Por esse motivo é que não pode existir nada mais rápido do que uma onda eletromagnética no vácuo, a não ser que o modelo de relatividade esteja errado. E isso nunca foi demonstrado até hoje: a teoria continua firme e forte, quase 100 anos depois de ter sido proposta.

Acontece que diversas observações e experimentos científicos realizados recentemente têm dado indícios de que existiriam alguns fenômenos mais rápidos do que a luz. Observações astronômicas de galáxias distantes, por exemplo, descobriram jatos imensos de partículas atômicas e de energia, irradiando a partir de estrelas que explodiram, a uma velocidade que parece ser maior do que a da luz (o chamado "movimento superluminal"). Outras estrelas, chamadas pulsares, giram ao redor de si mesmas a uma grande velocidade, emitindo feixes de luz e outras radiações como se fossem um farol marítimo. Pois bem, existem vários pulsares que completam uma rotação em poucos milissegundos: para isso eles teriam que exceder a velocidade da luz. O próprio Universo teria que ter se expandido desde o Big-Bang a uma velocidade maior do que a luz para atingir as dimensões atuais (que parece ser muito maior do que a que conseguimos medir).

Como fica então a teoria da relatividade? Será que ela está errada? Em ciência não existem teorias e leis sagradas: basta alguma observação contradizê-las que será necessário propor uma outra teoria,ou uma modificação de teoria já existente, para levar em consideração os novos dados. Estaria na hora de fazer uma revisão da teoria da relatividade?

Talvez não. Muitos desses fenômenos observados podem ter outra explicação, ainda não idealizada, e que não violam os preceitos da teoria da relatividade. Aliás, existem várias exceções conhecidas e admitidas pela teoria da relatividade ao limite máximo da velocidade da luz. Por exemplo, imagine uma tesoura infinitamente grande. Se fecharmos essa tesoura a uma velocidade muito grande, o ponto de intersecção das duas lâminas se deslocará para a frente a uma velocidade cada vez maior, à medida que as lâminas ficarem cada vez mais paralelas (próximas uma da outra). Teoricamente, então, esse ponto pode exceder a velocidade da luz em um determinado momento. Outro exemplo: se um feixe de luz laser for jogado sobre uma superfície muito distante, qualquer pequeno movimento na origem do feixe deslocará o ponto de projeção sobre essa superficie a uma velocidade muitas vezes maior. Se essa distância for extremamente grande, a velocidade de deslocamento do ponto de projeção poderá exceder a velocidade da luz!

Ainda existem muitas explicações possíveis para os fenômenos que aparentemente são superluminais. Mas se eles forem comprovados, terá seguramente chegada a hora de uma nova revolução na ciência. Precisaremos de um novo Einstein para fazê-la...

Para Saber Mais

Sabbatini, R.M.E.: Um rio nunca é o mesmo. Correio Popular, 12/4/97
Sabbatini, R.M.E.: O finito e o infinito, Correio Popular, 18/5/97.
Sabbatini, R.M.E.: Einstein, a personalidade do século. Correio Popular, 7/1/2000.
Superluminal Motion: Fact or Fiction?  By Ryan Frewin, Renee George, Deborah Paulson
Physics: Faster Than Light. By Phillip Ball. Nature Science Update 30/5/2000.
 

Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 20/4/2001 .

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