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Einstein, a personalidade do século

Renato Sabbatini


A revista americana Time é conhecida mundialmente, entre outras coisas, por indicar a personalidade do ano. Depois de um longo período de escolha, em que os leitores puderam opinar, a revista elegeu recentemente a personalidade do século. Entre diversos preferidos, alguns com brutal influência negativa, como Hitler e Stalin, outros com status de salvadores da humanidade, como Roosevelt, Churchill e Ghandi; o resultado foi uma surpresa: o ganhador foi um cientista, o mais conhecido cientista de toda a humanidade, Albert Einstein.

Confesso, fiquei emocionado. Não somente porque Einstein sempre foi meu cientista predileto e meu modelo de herói científico, mas porque a escolha é um fato sem precedentes, e um forte indicativo de que os novos heróis da humanidade estão deixando de ser os grande políticos, militares e líderes espirituais, e estão passando a ser os cientistas e tecnólogos. É um reconhecimento de que a ciência e a tecnologia foram os elementos mais importantes para o progresso acelerado das sociedades humanas neste século, e que continuarão a ser, cada vez mais. A informática, as telecomunicações, a genética e a biotecnologia, as ciências médicas, a física nuclear, a química, as ciências do ambiente, as engenharias, as ciências espaciais, as tecnologias modernas da agropecuária, as ciências do mar, etc.; contribuíram enormemente nos últimos 20 ou 30 anos para aumentar o grau de bem-estar e da longevidade do ser humano.

Ao mesmo tempo, a ciência e a tecnologia também estiveram envolvidas na imensa mortandade de gente nas várias guerras do século, as mais destrutivas da história (20 milhões de mortos na Primeira, mais de 50 milhões na Segunda). Os gases usados no genocídio, o napalm, as bombas atômicas e de hidrogênio, e muitas outras tecnologias desenvolvidas pela ciência para a guerra, trouxeram um mau nome para os cientistas, sem falar na enorme destruição do meio ambiente e dos seres vivos, causada pela indústria, pelos agrotóxicos, fluorocarbonados, emissões radiativas, etc.

Curiosamente, Einstein também se situou historicamente nessas duas vertentes da ciência. Ele é um exemplo fantástico dos dilemas do cientista do século XX: ao descobrir a equivalência entre matéria e energia, através de uma das mais importante teoria científica da história, a Teoria da Relatividade, abriu o caminho para o entendimento da fissão e da fusão nuclear. Nos seus aspectos positivos, levou à compreensão de fenômenos naturais fundamentais (por exemplo, como funciona a geração de energia e luz pelas estrelas); ao desenvolvimento da energia nuclear para fins pac para o cientista do século XX: ao mesmo tempo ele foi um dos maiores gênios da humanidade, com um QI altissimo, quase estelar, um milagre da inteligência humana; por outro lado revelou que era um ser humano como todos nós, ou seja, com fraquezas, aspectos condenáveis (como os recentemente revelados, sobre seu relacionamento com a primeira mulher), erros e acertos científicos, etc.

Outro aspecto interessante da vida de Einstein é o seu envolvimento com a política. Como judeu, ele apoiou ativamente o movimento sionista, embora fosse pacifista convicto, e chegou a ser convidado para o cargo de presidente do novo estado de Israel (que recusou).  Embora fosse um cientista altamente especializado, em física matemática, gostava de escrever sobre variados temas, como filosofia e sociologia da ciência, política, etc.

Em suma, a escolha da Time foi simplesmente excelente. Albert Einstein, o cientista que parecia ser pouco convencional (ficou famoso em todo o mundo por sua fotografia em que aparecia com a cabeleira desgrenhada, mostrando a língua); foi ao mesmo tempo um dos pilares da física, um homem tão importante quanto Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton.  Rompeu paradigmas, quando ainda jovem e desconhecido, um mero funcionário do Escritório de Patentes da Suiça, estudante recém-formado, de forma não muito brilhante. O ano em que publicou a teoria da relatividade ficou histórico. Pela audácia de seu pensamento, foi incompreendido inicialmente, mas depois se impôs, vitorioso, acumulou honrarias e realizações, até hoje sendo suas teorias seguindo irrefutadas.

Um orgulho para a espécie humana.
 

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Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,  7/1/2000.

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