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Farmácia Eletrônica

Renato Sabbatini

No Brasil existem mais de 8.000 medicamentos de uso corrente. Se considerarmos também os remédios homeoptáticos e fitoterápicos (baseados em plantas), produtos hospitalares, formulações e apresentações múltiplas (por exemplo, o mesmo medicamento sendo oferecido em drágeas, xarope, etc.), esse número sobe para mais de 12.000, cada um com sua dosagem, indicações específicas, contra-indicações, efeitos colaterais, mecanismo de ação, informações químicas, interações com outros medicamentos e alimentos, etc. É um dilúvio de informação, que nenhum profissional de saúde, nem os que têm memória fotográfica, é capaz de memorizar ou lembrar de tudo com segurança absoluta.

O excesso de medicamentos, de um lado, e a falta de informação sobre eles, de outro, têm provocado sérios problemas. Por exemplo: como os nomes comerciais de medicamentos têm pouco a ver com seu conteúdo ou função, sendo escolhidos automaticamente por computador, muitas vezes, para serem curtos e fáceis de pronunciar, existem muitos medicamentos que têm nomes parecidos. Isso leva a enganos às vezes fatais, de confusão entre nomes (por exemplo, um desinfetante de água bastante tóxico tem um nome muito parecido com o de um vermífugo, e já houve casos de confusão na hora da receita pelo médico).

Aqui é que entra a informática. Há muito tempo os países mais desenvolvidos reconhecem o valor da informação farmacológica para a prática médica e de assistência à saúde. O enorme número e diversidade de medicamentos, tanto genéricos quanto comerciais torna praticamente obrigatório que o profissional de saúde utilize obras de referência, cujo acesso e consulta podem ser extremamente facilitadas através da sua informatização. Nos Estados Unidos, o país mais avançado nesse assunto, existem extensas linhas de produtos disponíveis através de bancos de dados, como os da United States Pharmacopeia Convention (USP), Physician's Desk Reference (PDR), MicroMedex, American Society of Hospital Pharmacists (ASHP) e outros, e que estão agora também mais acessíveis através de CD-ROMs e da Internet. Na Internet podem ser encontrados vários recursos importantes, como o PharminfoNet (http://pharminfo.com/drugdb/db_mnu.html), o RxList (http://www.rxlist.com/) e outros.

No Brasil este trabalho também tem sido desenvolvido, e os primeiros produtos eletrônicos em auxílio do profissional médico começaram a aparecer nos últimos dois anos. Através da iniciativa de um grupo de profissionais universitários da Universidade de São Paulo, liderados pelo Prof. Antonio Carlos Zanini, surgiu o Guia de Medicamentos, que está disponível em duas mídias: através da Internet, no site do GuiaMed (http://www.guiamed.com) e na Farmácia Virtual (http://www.hospvirt.org.br), um projeto conjunto com o Hospital Virtual do Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, apoiado pelos Laboratórios Biosintética (http://www.biosintetica.com.br) ; e também agora em um CD-ROM simplesmente excelente.

O GuiaMed é a única base de dados nacional completa e independente dos laboratórios farmacêuticos existente no Brasil (existe uma outra, chamada Dicionário de Especialidades Farmacêuticas, muito conhecida, mas cujas informações provêm dos laboratórios). Ela contém praticamente todos os medicamentos produtos genéricos e comerciais disponíveis no mercado brasileiro e vários dos EUA e Europa, inclusive plantas medicinais e medicamentos homeopáticos, seus sinônimos (tesauro) e os medicamentos órfãos (para doenças raras). Os medicamentos também podem ser buscados de acordo com a classificação por uso terapêutico (Classificação alfa). Por exemplo, digitando-se as palavras "diabetes", o computador fornece uma lista de todos os medicamentos usados para essa doença que estão disponíveis.

A versão na Internet é muito interessante e fácil de usar, também, embora tenha um número mais reduzido de informações sobre cada medicamento. A Farmácia Virtual, que foi montada para ser usada pelos profissionais de saúde, está sendo muito usada por leigos, que desejam pesquisar informações sobre receitas que receberam de médicos. Isso é muito bom, pois evita que erros médicos sejam cometidos, comprometendo a saúde do paciente. Seria ótimo se todo mundo que recebesse uma prescrição, antes de comprar consultasse a Farmácia Virtual (ou um site com objetivos semelhantes, no Universo OnLine: http://www.uol.com.br) e checasse se as indicações, posologia, etc. estão de acordo com o problema de saúde, idade do paciente, etc. Também é importante ter informação a respeito das contra-indicações (situações em que o medicamento não pode ser tomado ou se deve ter precauções extras).

No futuro não muito distante, as farmácias e os consultórios também estarão ligados permanentemente à Internet e poderão fornecer essas informações diretamente aos médicos, farmacêuticos e pacientes, na consultório e no momento da compra do medicamento. O Prof. Zanini tem como um dos projetos em andamento um guia racional de medicamentos que inclui o preço e a equivalência entre medicamentos (as marcas que contém o mesmo princípio genérico e indicação). Assim,. Será possivel calcular o custo do tratamento e diminuí-lo racionalmente, e não através da famosa "empurroterapia" praticada no balcão de nossas farmácias...


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 31/3/98.

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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