Indice de Artigos


 Apple: a fênix renascida

Renato Sabbatini

Quando a revista Time fez uma festa para comemorar seus 75 anos de fundação, o mês passado, seus editores convidaram as personalidades mundiais que estão mais em destaque atualmente. Ao lado da futilidade e beleza (Sharon Stone), personalidades polêmicas (o Dr. Kervokian, inventor da máquina de suicídio assistido) e megapolíticos (Clinton), apenas três gurus da área tecnológica foram convidados: Bill Gates (Microsoft), Steven Jobs (Apple) e Andy Groves (Intel). Os nomes refletem bem como o mundo se curvou perante o poderio da indústria americana de alta tecnologia e são um retrato da fascinante história do desenvolvimento desta área nos últimos 20 anos. A escolha foi ótima, pois os três super-executivos são também pioneiros e motores principais de um setor da economia que movimenta mais de 350 bilhões de dólares por ano. Ninguém ignora que a poderosa e invencível associação entre a Microsoft e a Intel, que é chamada de "WinTel" é responsável por 90 % dos computadores em uso no mundo.

Steve Jobs foi convidado pela sua importância história. Afinal, foi o microcomputador Apple II, desenvolvido por ele quando ainda muito jovem, juntamente com seu amigo Steve Wozniak, um dos esteios principais da revolução da microinformática, na metade da década dos 70s; revolução esta seguida por outra, o desenvolvimento do computador Macintosh, com seu sistema operacional imitado descaradamente pelo MS Windows.

Jobs foi expulso da própria empresa que criou e andou em baixa por uns tempos. Inventou um computador maravilhoso, chamado Next (que não pegou), e voltou à fama subitamente, quando, em menos de um ano, obteve um megasucesso com o filme "Toy Story", inteiramente gerado por computadores da sua firma Pixar (depois comprada pela Disney), e o seu retorno como diretor-presidente temporário da Apple.

Em menos de um ano de gestão, Jobs, que é um gênio da categoria de um Bill Gates (muitos acham que é mais) duplicou o valor das ações da Apple, fez a empresa a voltar a ter lucros, e deu início a uma série de mudanças tecnológicas nos produtos da empresa, com o objetivo de ganhar de volta a fatia história de mercado (25 a 50 %, dependendo do segmento).

Esta semana, Jobs anunciou a nova série de Macintoshes hiperpoderosos, que utilizam o "chip" G3, de 300 e 400 MHz de velocidade, muito mais rápido do que seus competidores no mundo Wintel. Ele é uma evolução da linha de chips "Power PC", que resultou de uma aliança com a IBM. O G3 (somente a versão de 300 MHz está disponível) está vendendo muito acima do esperado, tendo comercializado perto de 130.000 unidades mensais. Isso não é nada perto da venda dos chips Intel, mas é o começo de um renascimento, se tudo der certo.

Uma inovação interessante da Apple é que o comprador poderá configurar a máquina de seus sonhos na própria linha de fabricação, tornando o Power Macintosh G3 "o mais versátil e poderoso computador pessoal do planeta. São mais de 20.000 configurações distintas.

Os analistas do mercado, como a ZDNet (http://www.anchordesk.com) estão se perguntando se a nova investida da Apple terá força suficiente para vencer o leviatã representado pela Wintel. Isso vai depender de muitos fatores, como o preço e o surgimento de novas versões do Pentium. Um Power Macintosh G3 300, com 64 megabytes de RAM, disco SCSI de 4 gigas e um CD-ROM de 24x custa 3.359 dólares nos EUA. Compare com um Pentium II 233 MHz, com a mesma capacidade de memória, ao preço médio de 2.500 dólares, e vemos que o novo Mac é uma máquina para poucos. Claro que é muito mais rápido, mas a maioria dos usuários não precisa de tanta velocidade assim. O Mac G3 de 400 MHz será ainda mais rápido: segundo Jobs será equivalente a um Pentium de 800 MHz (teoricamente impossivel de ser fabricado, pois usa microchips de alumínio, ao contrário do G3, que utiliza uma novissima tecnologia baseada em cobre, que oferece menor resistência à corrente elétrica, podendo ser, portanto, bem mais rápido).

O segundo problema que a Apple vai ter que enfrentar será o do software aplicativo de baixo custo, disponível para suas novas máquinas. Tratarei desse tema na próxima coluna.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 24/3/98.

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
WWW: http://home.nib.unicamp.br/~sabbatin Jornal: http://www.cpopular.com.br


Copyright © 1998 Correio Popular, Campinas, Brazil