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WebTv, um casamento imperfeito ?

 

Renato Sabbatini

 


 Quatro das maiores empresas de Informática do mundo, a Microsoft, a Sun, a Intel e a Oracle, já gastaram quase dois bilhões de dólares em uma idéia controvertida: o casamento final entre a TV e a Internet. Apenas a Microsoft, que comprou a WebTV, a mais avançada das tecnologias que buscam esse casamento, já gastou um bilhão de dólares no empreendimento.

 Os especialistas estão convencidos que Gates está próximo a perder toda essa dinheirama. A WebTV não está dando certo nos EUA, da mesma maneira como não deram certo o videotexto, o videotex, a TV interativa, e outras aventuras tecnológicas da última década, e que tentaram amarrar esse casamento à força. Com um mercado potencial gigantesco (teoricamente todos os locais que têm uma TV e um telefone ou TV a cabo), os analistas de mercado ainda não sabem se o consumidor ficará algum dia interessado em poder surfar a Internet a partir de sua televisão.

 A WebTV funciona da seguinte maneira: uma caixa colocada perto do aparelho de TV usa uma parte do sinal de radiofreqüência não utilizada pelas emissões, para se comunicar com um provedor de informação. Páginas pré-carregadas com informação (geralmente as associadas a algum programa de TV que está passando), podem ser lidas pelo usuário, pressionando um botão de comando no controle remoto da WebTV (mais um !). Para surfar na Internet, é necessário uma ligação telefônica ao provedor, ou, se existir, através da TV a cabo. O controle remoto não tem teclado, e as telas da WebTV precisam ser feitas especialmente para ela, de forma simplificada. A tela geralmente é pequena e é sobreposta sobre a tela do programa de TV.

 Para Gates e seus competidores, a idéia é boa demais, pois, ao contrário do que acontece com a incontrolável Internet, a WebTV permite seu concessionário ganhar muito dinheiro através de serviços tarifados (cobrando por acesso, por exemplo).

Resta saber se os consumidores querem pagar... Até agora, nos EUA (único país que têm provedores especializados) a WebTV convenceu menos de 50 mil consumidores, geralmente pessoas idosas, que não têm ou não querem aprender a usar computadores e modems. Segundo os analistas, se a atual tecnologia continuar do jeito que está, o mercado não tem muito futuro. Existem vários motivos para isso. O principal deles é o mesmo que causou o fracasso de todas as tentativas anteriores de "casamento": os espectadores de TV simplesmente querem assistir TV e não ficar procurando informações! Querem relaxar, se entreter, e não trabalhar. Querem ficar "zapeando" pelos canais, e não ficar horas surfando por telas cheias de texto difícil de ler.

O mais curioso é que diversas empresas concorrentes da Microsoft estão convencidas de que o sistema tem futuro, e estão entrando no mercado com sistemas totalmente incompatíveis entre si. Navio, Network Computer, WavePhone, DataCast, NetChannel, WorldGate, InterCast são seus nomes, e todos buscam o mesmo nicho de marcado, só que gastando muito menos dinheiro que a Microsoft. Na tentativa de corrigir as deficiências da WebTV, as vezes criam esquemas mais estúpidos ainda, como tirar a melhor coisa da Internet, que é a interatividade.

Um bilhão de dólares é muito dinheiro. Bill Gates é muito esperto. A Microsoft tem muito sucesso em tudo que faz. Tudo isso junto não é nenhuma garantia que a WebTV vá dar certo. Se não der, será o primeiro grande tombo de Mr. Gates. Atualmente, ele está tentando convencer milhares de desenvolvedores de sites na Internet a criarem conteúdo específico para a WebTV. Gates sabe que essa será um dos principais fatores de sucesso. No entanto, está encontrando muita resistência, pois ele já fez o mesmo anteriormente com a Microsoft Network (MSN), que começou como uma rede dedicada, como a CompuServe, e acabou dando uma guinada de 180 graus, passando a adotar uma estratégia baseada na Internet, quando percebeu que iria ter um enorme fracasso. Na época, muitos webmasters pegaram uma raiva mortal da Microsoft, pois foram deixados totalmente na mão, depois de terem gasto muito dinheiro.


 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 07/10/97.

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