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Leilão de emprego

Renato Sabbatini


A Internet é um verdadeiro maná caido dos céus para o trabalhador "free-lancer", ou seja, o que desenvolve projetos por empreitada, trabalhando sozinho. O mercado de teletrabalho está explodindo em todo o mundo, graças ao surgimento de uma solução ideal para um velho problema: a Internet divulga quem quer comprar serviço para quem quer vender, e vice-versa; independentemente de localização geográfica.

O universo dos free-lancers se concentra em algumas áreas, que podem ser resolvidas à distância: redação de textos de qualquer natureza, criação artística, design e publicidade, desenvolvimento de software e de sites na Internet, preparação de slides, planos de negócios, e ensino a distância. Existem muitos sites que surgiram com o objetivo específico de servir de mercado on-line para trabalhos free-lancer, tais como o eLance (www.elance.com), Ants (www.ants.com), eWork (www.ework.com), Bullhorn (www.bullhorn.com), e muitos outros.

Uma coisa curiosa é que muitos desses sites oferecem leilões de ofertas, ou seja, a empresa ou pessoa interessada em contratar um teletrabalho coloca a oferta em uma determinada categoria, e fixa (ou não) um preço máximo que quer pagar. Os interessados em pegar o trabalho então fazem lances, naturalmente menores do que o preço máximo fixado. Isso é muito bom para quem está comprando o serviço, pois esse leilão reverso acaba derrubando os preços em relação aos praticados no mercado. Mas, para não se basear só no preço, os free-lancers têm um espaço para colocar uma descrição de suas habilidades, inclusive links para trabalhos que já fizeram, para qu eo comprador de serviços possa avaliar a qualidade do pretendente.

Tenho acompanhado alguns desses sites, e o problema que já está bastante aparente é que aparecem dezenas de pretendentes dando lances para cada trabalho. No fim, o diferencial dado pela Internet acaba resultando em mais competição do que em um mercado local, onde você tem chances de aparecer melhor, embora o mercado seja mais restrito. Fica elas por elas...

É um mercado de tamanho razoável. Apenas uma das empresas on-line do setor, a americana eWork, tem mais de 140 mil free-lancers registrados, quase 60 mil projetos, com um valor de contratação anual de 400 milhões de dólares. Desde a sua criação, três anos atrás, essa empresa intermediou projetos no valor de 5 bilhões de dólares.  É um volume espantoso: no Brasil seria um dos maiores empregadores do país.

"Free-lancer" é uma expressão interessante, que pouca gente conhece a origem: refere-se aos soldados mercenários (lanceiros) que eram contratados por batalha, na Europa dos séculos 18 e 19. Eles serviam a qualquer lado de uma guerra, desde que fossem devidamente pagos. Muitas vezes o pagamento era em espécie, ou seja, o contratante "deixava" que eles saqueassem e pilhassem a população das zonas de guerra.

Mantidas as proporções, acontece uma coisa curiosa: muita gente realiza trabalhos free-lancer de graça, ou quase, o que vai contra a filosofia básica desse tipo de trabalhador. Acontece que, para aparecer no mercado, e construir o que se chama de um portfólio decente (uma coleção de trabalhos realizados e disponíveis), inicialmente a pessoa tem que trabalhar sem receber nada. Evidentemente, muitos sites se aproveitam dessa característica, e exploram bastante o farto suprimento de gente desesperada por achar um lugar ao sol.

No Brasil estão começando a surgir, timidamente, as primeiras empresas de free-lancers on-line. Uma delas é a www.escreva.com.br
 



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 4/8/2000 e 11/8/2000 .
Jornal: Email: cpopular@cpopular.com.br
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