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Sabendo onde você está

 

Renato Sabbatini


Um mercado que está próximo de explodir é o de localização geográfica através da Internet. Explico: todo mundo já deve ter ouvido falar do GPS (Global Positioning System). Trata-se de um sistema de satélites, desenvolvido pelo Ministério da Defesa dos EUA e que permite determinar com grande precisão as coordenadas (latitude e longitude) de um aparelho eletrônico de acesso. Os satélites, que ocupam posições fixas em órbita terrestre (são geoestacio0nários, ou seja, giram com a mesma velocidade de rotação da Terra), enviam constantemente sinais padronizados. Captando o sinal de no mínimo dois desses satélites, o aparelho de GPS consegue fazer um cálculo simples de triangulação e determinar com precisão de menos de um metro a sua localização geográfica. Os satélites do GPS até hoje podem ser usados em sua precisão máxima apenas pelos militares (eles embutiram alguns códigos que só funcionam com equipamentos deles, e que não foram liberados para aplicações civis, ainda). No entanto, usando diversos truques, os fabricantes de aparelhos de GPS conseguem aproveitar o sinal e obter uma precisão não tão grande, mas mesmo assim aceitável.

Pois bem, os aparelhos de localização via GPS ficaram cada vez mais miniaturizados e baratos com o passar do tempo, e hoje estão disponíveis para qualquer bolso. Acoplando-os com outros sistemas de satélites, ou telefones celulares, surgiu a possibilidade de desenvolver um sem-número de aplicações científicas e comerciais interessantes.

Por exemplo, em Campinas, a Graber Segurança, tradicional e fortíssima empresa na área de segurança patrimonial, lançou um sistema de monitoramento e localização de veículos através de GPS e satélite. Um equipamento, embutido no carro ou caminhão (o sistema está disponível também para pessoas físicas que temem ser seqüestradas, ou que têm automóveis muito caros) checa continuamente a sua posição através do GPS e envia via satélite os dados de latitude e longitude. Um software especial, na central de monitoração, permite saber onde está o veículo, a qualquer hora do dia ou da noite, em relação a um mapa da cidade, até em nível de quarteirão. Isso é útil para localizar instantaneamente veículos e cargas roubadas, e fazer um acompanhamento preciso das rotas dos caminhões da empresa. Grandes empresas de distribuição e transportadoras já tem milhares de caminhões adaptados com esse sistema. Os custos mensais são salgados: variam entre 300 e 2.000 reais por veículo por mês, mas tem a vantagem de funcionar em qualquer ponto do país, por mais remoto que seja, e até em vários países limítrofes ao Brasil.

Um sistema mais barato utiliza telefonia celular, e seu preço é bem mais baixo. Tem a desvantagem de funcionar somente onde existe cobertura do aparelho celular usado, ou seja, geralmente somente nas cidades e ao longo de algumas estradas. Ele funciona da mesma forma que no sistema baseado em satélite da Graber e semelhantes, mas a comunicação das coordenadas do GPS no veículo é feita através de uma discagem automática de um celular embutido. Essa discagem pode ser tão freqüente quanto se queira, ou seja, uma vez a cada minuto, a cada hora, duas vezes por dia, etc. O custo vai ser proporcional ao número das ligações feitas, que são bem curtas (menos de 10 segundos). A empresa CTBC Telecom, do grupo Algar, do Triângulo Mineiro, foi a primeira a lançar esse serviço, que deve ser copiado por todas as outras operadoras brasileiras de telefonia celular muito rapidamente. O mais interessante desse serviço é que o próprio usuário pode determinar a localização do seu veículo através de um site na Internet, acessível através de senha! Imaginem só as aplicações... Dizem que os donos de motéis não estão muito felizes com a novidade...

À medida em que os equipamentos de telefonia e de GPS continuarem a ser miniaturizados, surgirão equipamentos pessoais de localização geográfica, que poderão ser usados para mapear a localização exata de indivíduos, com precisão muito grande. Comenta-se que o governo americano pretende liberar o uso total do GPS para civis, desde que os militares russos, que têm um sistema semelhante, começaram a comercializá-lo para quem quiser usar. Sistemas comerciais de GPS também estão sendo desenvolvidos. O mercado é fabuloso para quem chegar primeiro e com o melhor preço.

Como a Motorola demonstrou recentemente em seu projeto Digital DNA, esses aparelhos celulares e localizadores serão usados como um pequeno brinco na orelha, ou um broche na lapela. No futuro, é possível até que eles sejam sistemas implantáveis, que serão inseridos debaixo da pele, dotados de uma bateria perpétua. Parece coisa de ficção científica, de Big Brother, mas falta pouco para chegarmos a este ponto. Mas já existem aplicações muito criativas. Um professor de uma Universidade da Califórnia, por exemplo, desenvolveu um sistema GPS portátil para cegos, acoplado à uma bengala dotada de sensores e um sistema de síntese de voz, que permite que o deficiente visual ande por qualquer calçada, atravesse ruas, etc., sem nenhuma ajuda, através do acoplamento entre um mapa detalhado de suas cercanias e do localizador GPS.



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 9/6/2000 .
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