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Internet grátis: vai pegar?


Renato Sabbatini

Muitos especialistas estão prevendo que já no final do ano 2000 praticamente não existirá acesso pago aos serviços básicos da Internet nos países desenvolvidos (e acho que no Brasil também não...). O motivo é simples: o modelo econômico está mudando. A queda vertiginosa nos preços cobrados para o acesso à Internet pelos grandes provedores começou no ano passado, deflagrada por uma guerra entre a ZAZ e a UOL, os dois maiores provedores brasileiros (com cerca de um milhão de usuários no total). Acesso irrestrito, por exemplo, virou padrão, e a taxa mensal fixa é cada vez mais baixa. Qualquer um podia ver que a tendência era o preço zero, mas o golpe de morte (pelo menos no Brasil) foi dado, em uma única semana, pelos bancos (Bradesco, Unibanco, Itaú e Banco do Brasil), que anunciaram acesso gratuito para todos seus correntistas, e por duas empresas que se especializarão em acesso gratuito: IG, Super11 e NetGratuita. Outros bancos, e outras empresas desse tipo certamente aparecerão às dezenas durante o ano, movidos pela competição.

Como será possível ganhar dinheiro, oferecendo algo gratuito? Para os bancos, evidentemente, os ganhos serão indiretos. Ao motivar um número cada vez maior de correntistas a usar os serviços bancários básicos através da Internet, os bancos diminuirão os gastos com pessoal, fecharão agências, etc. Além disso, a maior circulação de usuários por seus portais na Web permitirão lucros maiores com vendas de produtos, mercado de aplicações financeiras, comércio eletrônico, venda de propaganda, etc. O Bradesco, neste aspecto, é modelar: seu premiadissimo site (todo ano ganha o Internet World Best em várias categorias) já implemente a Carteira Eletrônica e um movimentado Shopping Center virtual. O rendimento extra obtido com o aumento de usuários pagará os gastos adicionais com o fornecimento de acesso gratuito. Mesmo porque ele custa muito barato hoje: se a UOL, por exemplo, cobra 19 reais por mês pelo acesso irrestrito, é porque provavelmente isso custa 5 reais por mês para ela em infraestrutura e pessoal. Os números gigantescos de usuários é que fazem a diferença.

Nos EUA, o acesso gratuito à Internet é uma realidade, com mais de 4 milhões de usuários. A empresa Altavista, por exemplo, famosa pelo seu mecanismo de busca, já tem sozinha 1,5 milhão de usuários gratuitos (é a lider de mercado). Ela agora está fazendo uma série de acordos com cadeias de lojas, bancos, sites, etc., para provimento de acesso gratuito a seus usuários. A Yahoo!, outro site conhecido como catálogo eletrônico, também entrou nessa, e recentemente fechou acordo com a Kmart, uma cadeia de lojas. Está correndo um boato que a Microsoft também pretende oferecer acesso gratuito para a sua rede (MSN). Anos atrás o próprio Bill Gates declarou que o acesso deveria ser gratuito.

Existem outras razões para que o acesso básico à Internet se torne gratuito ainda este ano, além da intensa competição. Entre elas está o surgimento de métodos de acesso de alta velocidade (ADSL, ISDN, TV a cabo), que continuarão a ser pagos: os provedores vão concentrar sua estratégia em atrair novos usuários através de serviços gratuitos e depois cobrar de quem quiser maiores velocidades. Talvez seja essa uma das razões que levou a Telefonica a adquirir a ZAZ: ela está se tornando uma provedora importante de acesso à alta velocidade, através do serviço Speedy e da Telefonica IP (uma rede dedicada à Internet).

Essa será a salvação ds provedores que se dedicam essencialmente ao provimento de acesso pago à Internet, como a UOL, ZAZ, AOL, etc. (aliás, a controladora da ZAZ, a Terra Networks, anunciou também o seu serviço gratuito, o Terra Livre). Muitos analistas estão prevendo que eles serão destruídos, ao serem obrigados a oferecer acesso gratuito, eliminando sua principal fonte de renda. A AOL, afinal, tem mais de 20 milhões de usuários em 13 paises. Eu não acredito que isso vá acontecer. Em primeiro lugar, esses provedores já perceberam que tem que oferecer conteúdo para atrair e fixar os usuários. A UOL está fazendo anúncios dizendo que "grátis significa muito pouco". Ela oferece um conteúdo gigantesco: dezenas de revistas e jornais, centenas de sites afiliados, sendo um dos maiores provedores de conteúdo do mundo, e o maior da língua portuguesa. Muitos usuários (eu, inclusive) aceitaria continuar a pagar um módico valor mensal pelo acesso discado, simplesmente para não perder esse conteúdo (pelo qual a UOL, inteligentemente, cobra, para quem não é seu usuário: eu fui um dos analistas que errou ao prever que a UOL teria insucesso em sua estratégia, quando a anunciou). Outros usuários simplesmente não querem passar pela dor de cabeça de mudar de email ou homepage na Web mais uma vez…

Em resumo, acho que os dois modelos vão continuar a coexistir, mesmo porque os provedores de acesso gratuito também vão brigar para ter um conteúdo e serviços para seus usuários cada vez maiores e mais atrativos.

Por outro lado, a renda obtida pelos portais através de propaganda ("banners"), embora esteja aumentando, ainda é insignificante, e existe uma reação negativa por parte dos usuários, que se cansam do efeito provocado pelo aumento dos tempos de carregamento das páginas (o uso de softwares que bloqueiam o aparecimento de "banners" aumenta em até 30% a velocidade de acesso…). Alguns portais nos EUA já estão começando a remover os "banners". Se eles sumirem de vez, o modelo econômico dos novos portais de acesso gratuito poderá ficar instável.

O futuro promete grandes emoções…
 

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Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 21/1/2000 .
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