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Microsoft: um novo gigante da mídia ?

Renato M.E. Sabbatini

Bill Gates ainda vai ser dono do mundo.... Esse foi a sensação predominante de muitos especialistas do mundo da Informática, ao ouvirem o que o dono da poderosa Microsoft tinha para dizer na Microsoft’s Professional Developers Conference, em março. E o que os dirigentes da empresa disseram marca um divisor de águas extremante importante na sua estratégia global: a Microsoft pretende se tornar uma empresa de mídia, competindo diretamente com gigantes como a Disney e a Time-Warner !

Segundo Denise Caruso, uma das estrelas jornalísticas da revista “Wired” (http://www.wired.com), para que uma empresa de mídia de massa realmente tenha sucesso no próximo século, serão necessárias quatro coisas: primeiro, um conhecimento profundo das áreas de interface homem-computador, interatividade e computação gráfica; em segundo, ser capaz de projetar e implementar mundos virtuais usando tecnologias de domínio próprio; em terceiro, fazer alianças estratégicas com empresas de mídia já existentes e com fabricantes de hardware; e, finalmente, em quarto, ser capaz de sair na frente da competição, na maioria das áreas. E, para complementar, deve ser capaz de um investimento de capital extremamente grande, em relativamente pouco tempo.

Ao que tudo indica, se existe uma empresa no mundo que pode atingir rapidamente esses quatro requisitos, essa empresa é a Microsoft. E, ao que tudo indica, também (embora Gates seja o primeiro a negar a possibilidade de uma transformação imediata), a Microsoft já começou a dar os primeiros passos estratégicos no sentindo de se transformar numa das maiores empresas de mídia do mundo. Ela está fazendo investimentos significativos no desenvolvimento, capital e pessoal técnico em áreas como a Interactive Media Division, que já tem 2 mil empregados, e fazendo alianças estratégicas com os impérios do futuro na área de cinema. TV e música, como a DreakWorks SKG, a mega-empresa formada por Jeffrey Katzenberg, Steven Spielberg e David Geffen; e a DirectTV (transmissões pagas de TV).

A Microsoft decidiu que o fulcro de sua estratégia será a Internet, pois ele será o canal de distribuição de mídia no futuro. Logo após lançar o Windows 95 (que já vendeu 20 milhões de cópias desde agosto de 1995) a Microsoft decidiu colocar na tela do Windows o ícone de instalação e registro da Microsoft Network (MSN), o seu principal canal de interatividade. Com essa simples estratégia, conseguiu cerca de um milhão de usuários em pouquissimo tempo, mesmo sem ter conectividade boa com a Internet. Agora, no entanto, a Microsoft resolveu fazer uma reviravolta total em seu relacionamento com a Internet. Ao que os boatos indicam, ela não mais oferecerá um formato de acesso proprietário, como a American On Line (http://www.aol.com) ou a CompuServe (http://www.compuserve.com) , duas gigantes competidoras no mundo das redes eletrônicas populares, mas partirá para o mundo da WWW (World Wide Web), totalmente aberto. utilizando os padrões HTML e Java. Esta revolução estratégica significa que a Microsoft pretende embutir acesso à Internet em toda sua linha de produtos de software, de aplicações a plataformas de redes !

Os planos da empresa são enormemente abrangentes e detalhados, e o resultado promete ser absolutamente fantástico. Querem ter uma pequena idéia ? Uma das joint-ventures da Microsoft, fechado com a NBC, a maior cadeia de TV dos EUA, prevê a combinação formidável de duas forças: o enorme acervo de videos e de programas de TV da NBC, com o novo projeto da Microsoft, denominado SIPC (Simple Interactive PC), que prevê, para o início de 97, a venda de computadores de baixo custo acopláveis a aparelhos de TV, e que serão capazes de prover programas de vídeo a partir de sistemas de redes on-line. Parecido com o videotexto ? Não é nem um pouco.

Quanto ao dinheiro, como o próprio Bill Gates diz, eles não tem problemas de fluxo de caixa, não devem nada a nenhum banco ou grupo financeiro, e ainda tem uns 3 ou 4 bilhões de dólares mobilizáveis a curto prazo... A Microsoft é a maior empresa do mundo na área de software, tendo faturamento anual de 6 bilhões de dólares e um valor de mercado de 61 bilhões de dólares.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 11/6/96
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