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Medo de computador

Renato M.E. Sabbatini

Numa sociedade cada vez mais permeada por computadores, e dependente deles para tudo (alguem imagina um banco não informatizado ?), existe ainda um número muito grande de pessoas que morre de pavor de chegar perto de um computador. Essas pessoas, hoje se sabe, sofrem de uma forma de fobia (medo irracional), denominada ciberfobia. Não estou brincando com vocês, não. A American Psychological Association incluiu recentemente essa fobia em seu catálogo oficial de diagnósticos psicológicos, e até já existe tratamento padronizado para ela.

Em geral, uma pessoa com ciberfobia não tem apenas medo ou aversão a computadores. É um medo mais amplo, por assim dizer. São identificadas facilmente, e todos nós conhecemos pelo menos um amigo ou parente que sofre desse mesmo mal. Não conseguem utilizar um controle remoto, têm enormes dificuldades com os botões do telefone celular, começam a suar frio se têm que programar uma gravação com o videocassete. Videogames, nem pensar... Se confrontadas com um teclado qualquer, como no caixa do banco, têm vontade de sair correndo e esquecer ou adiar o que tinham que fazer. Computador, então, é o pior. Têm medo de mexer no teclado e provocar algum dano irreversível, não entendem nada do que está aparecendo na tela, e nem conseguem (ou querem...) aprender a utilizar um programa simples. O mais interessante é que não sentem nenhum fascínio pela tecnologia, nem têm curiosidade de aprender. Preferem manter à distância.

Por isso, a ciberfobia é um aspecto particular de um grupo de fobias maior, chamado de tecnofobia, ou seja, medo obsessivo de tudo que é alta tecnologia ! Não é uma doença que deva ser objeto de gozação, pois provoca sofrimento e sentimentos de incapacidade aguda em quem é portador, pois hoje em dia é praticamente impossível deixar de conviver com os computadores, em uma sociedade moderna. Computação, para a maioria das pessoas, passou a ser um opção do tipo "ame-a ou deixe-a" e tem provocado inúmeros conflitos (por exemplo, conheço muitos casos em que um dos cônjugues se apaixona por computação e a transforma em um hobby. Se o parceiro ou parceira for ciberfóbico, isso acaba gerando um "viúvo computacional" do outro lado, o que tem levado a diversos divórcios...).

A ciberfobia é muito danosa para o indivíduo e sociedade. Para a pessoa, impede que ela progrida pessoalmente, ao adotar as ferramentas maravilhosas que a Informática proporciona para melhorar nossa produtividade e facilitar nosso acesso à informação. A tendência nos bancos, por exemplo, é diminuir muito o papel das agências tradicionais, e aumentar a presença de caixas automáticos para tudo. Os automóveis têm controles cada vez mais complexos, e os aparelhos eletrodomésticos de uso diário, do telefone ao videocassete, estarão, no futuro, cada vez mais integrados por computadores. Um ciberfóbico acaba tendo que viver como no século passado, e se isola muito com isso.

Por isso tudo, recomendo o tratamento, que não foge do padrão adotado para as outras fobias, como claustrofobia, agarofobia, etc. Consiste em usar as técnicas da psicologia comportamentalista, que utiliza reforços positivos e negativos para diminuir a incidência dos comportamentos fóbicos indesejados e aumentar os desejados. Geralmente são bastante efetivas. No caso da ciberfobia, o importante é se aproximar gradativamente do computador, começando com coisas muito simples e úteis para o ciberfóbico, de preferência que sejam tarefas repetitivas e pouco "assustadoras". Depois de progride para coisas mais complexas. Para isso, é fundamental contar com a ajuda de um psicólogo experimentado nesse tipo de terapia (aqui em Campinas, o Instituto de Psicologia da PUCCAMP pode indicar terapeutas nessa linha). Se você é um ciberfóbico (pouco provável, pois não estaria sequer lendo essa coluna !), arme-se de coragem e vença seu problema. Não vai se arrepender.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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