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Provedores de acesso

Renato M.E. Sabbatini

Depois da abertura da Internet para acesso comercial, a partir de setembro deste ano, ocorreu uma "febre" de provedores de acesso. Todo mundo quer entrar e ganhar dinheiro fácil: basta ver a fila de provedores que solicitaram conexão ao "backbone" da Rede Nacional de Pesquisa (RNP): mais de 100 empresas estão se candidatando. Campinas já tem dois provedores privados: a DGL e a MPC, ambas operando há pouco tempo. A diferença é que elas estão conectadas ao "backbone" da Embratel, que está no momento enfrentando problemas de velocidade e excesso de demanda, o que tem perturbado o funcionamento do acesso.

Será que é mesmo fácil ganhar dinheiro vendendo acesso à Internet ? A resposta, evidentemente é: depende de quanto dinheiro você tem para investir. Como tudo no mundo capitalista, é necessário um investimento inicial razoável, o qual, dependendo do porte da operação (basicamente número máximo de usuários), pode variar entre 25 mil a 300 mil dólares. Além disso, a qualidade do serviço que se pretende oferecer é um parâmetro fundamental. Por exemplo: para se oferecer correio eletrônico e grupos de notícias, apenas, bastam um modem de velocidade média e uma linha telefônica para cada 1000 usuários. Já para oferecer acesso integral a todos os serviços Internet e WWW (acesso multimídia) o melhor é a proporção de 10 usuários por linha, e os modems são mais caros.

No Brasil, existem dois componentes grandes de custo para operações de porte médio e grande: o preço da configuração de servidores e o preço das linhas telefônicas. No primeiro caso, qualquer coisa com mais de mil a 2 mil usuários necessita de um servidor RISC (Reduced Instruction Set Computer), como Sun, IBM, HP, etc. São máquinas que começam na faixa dos 20 mil reais. Daí para cima é necessário usar um minicomputador, como um Digital AlphaServer, com 128 Mbytes de memória RAM e 10 a 20 Gbytes de memória de disco, e entre 100 a 1000 linhas telefônicas. A Unicamp, por exemplo, tem uma máquina dessas para seus mais de 6 mil usuários. O custo vai para o espaço, principalmente o das linhas telefônicas, que têm preços absurdos no Brasil, principalmente se adquiridas no mercado paralelo. Daí, é necessário alugar-se as linhas, ao invés de comprar, o que também não sai barato.

Finalmente, temos o aspecto da operação propriamente dito: é necessário ter um bom ambiente físico, três turnos de operadores, custos de manutenção técnica, licenciamento de software, etc. A conta não é pequena. Os lucros fabulosos imaginados pelo incauto investidor evaporam rapidamente, principalmente quando se considera que o preço que o usuário vai pagar por mês, devido a pressões de mercado e considerações políticas, é irrisório (40 a 50 reais por mês, em média). As operações de provimento de acesso, então, só se tornam rentáveis a partir de uma economia de escala, com números grandes de usuário. Dilemas da vida: o investimento em hardware e gente passa a ser maior, e a dificuldade de se conseguir esse número de usuários, um tremendo obstáculo ao que parecia uma idéia tão boa...

Em conclusão, quem tiver idéias de se tornar provedor de acesso à Internet, recomenda-se realizar um criterioso estudo antes, com projeçoes de receita e despesa, estudos de mercado, etc., para não sofrer um tombo depois. A RNP, sediada em Campinas, distribui um kit com uma série de informações úteis para o provedor em potencial (tel. 39-3359).

Minha previsão é de que muitos provedores pequenos que estão se estabelecendo agora, não conseguirão ficar no mercado por muito tempo. Não aguentarão as pequenas margens de lucratividade, e a crescente competição dos grandes e poderosos provedores que estão surgindo. A qualidade do serviço oferecido vai ser um diferenciador fundamental no mercado, pois o usuário poderá experimentar gratuitamente, como ocorre nos EUA, os serviços de um determinado provedor durante um mês, para poder comparar. Isso ainda não existe por aqui, mas é fácil prever que vai ser um dos elementos da luta pelas fatias do mercado.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 27/12/95
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br

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