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UNIX e o resto

Renato M.E. Sabbatini

O UNIX é um sistema operacional que foi desenvolvido nos anos 70 por dois pesquisadores dos Laboratórios Bell, chamados Ken Thompson e Dinnies Richtie, para uso em minicomputadores. O UNIX foi o primeiro sistema operacional desenvolvido em uma linguagem de alto nível (no caso, a linguagem C, também inventada pelos mesmos pesquisadores), e como tal, é um sistema facilmente portável, ou seja, desde que o computador onde ele será instalado pela primeira vez tenha o compilador C, ele pode ser transferido e executado. O UNIX existe em diversas formas e implementações, desde versões proprietárias para computadores de fabricantes específicos, como o SunOS (estações SUN), o AIX (máquinas IBM), A/UX (a versão para Macintoshes), HP-UX (para computadores da Hewlett Packard), XENIX, etc., até as versões de domínio público para computadores PC e RISC, tais como o BSD, LINUX, etc. Não existem versões "oficiais", sendo o que chega mais perto disso são os sistemas lançados pela AT&T, a empresa dona do Bell Labs. A versão mais recente é o System V (cinco, em romano).

Sendo um sistema de concepção bastante antiga (pelo menos 25 anos), e tendo sido feito em uma época em que os maiores minicomputadores tinham 32 K de memória e 2 Mbytes de disco, o sistema UNIX é uma maravilha de engenharia de software, sendo extremamente poderoso, para o seu tamanho. Entretanto, não é um sistema operacional muito amistoso ou fácil de usar, principalmente para as gerações que cresceram usando o MS DOS, com seus comandos relativamente intuitivos, e com as interfaces gráficas tipo Windows. O UNIX é cheio de comandos de duas letras, difíceis de lembrar, como ls -l (que faz a mesma coisa que o DIR no DOS, ou seja, lista o conteúdo de um disco). Tem a fama de ser "esquisito" e pouco intuitivo (como o fato de que tem importância o uso das letras minúsculas ou maiúsculas em comandos, parâmetros e nomes de arquivos). Isso é assim pois a exígua memória das máquinas de 1970 forçou o desenvolvimento de uma linguagem de comando a mais compacta possível. São centenas de comandos desse tipo.

Por isso, o UNIX convencional é do tipo "ame-o ou deixe-o". Tanto o C quanto o UNIX provocam reações extremas, desde ódio incontrolável até amor exagerado. Geralmente, as pessoas que estudam ciência da computação profissionalmente amam o UNIX, pois ele tem uma concepção extremamente elegante, além de incorporar tudo o que um "computer nerd" deseja em matéria de controle total da máquina. O UNIX é um sistema multiusuário e multitarefa, ou seja, permite que o mesmo computador execute programas provindos de diversos usuários ao mesmo tempo, ou de um mesmo usuário, ao mesmo tempo. Para se ter uma idéia do que isso significa, o mundo dos PC atingiu essa capacidade apenas com o OS/2 Warp e o Windows 95. Portanto, o UNIX sempre foi o sistema operacional aberto de escolha prioritária para a implementação e operação de sistemas operacionais. Além disso, o UNIX é extremamente robusto e escalável, ou seja, ele funciona igualmente bem em um humilde 386monousuário, até um supercomputador de 20 milhões de dólares, com milhares de usuários.

Já os usuários "domésticos" dos PC's, ou pessoas que não estudaram formalmente ciências da computação tendem a odiar o UNIX e suas complicações desnecessárias. É claro que existem diversos ambientes operacionais semelhantes ao Windows, que rodam debaixo do UNIX padrão, alguns deles até muito mais "bonitos", eficientes e elegantes que o OS/2 o MacOS e o Windows 95, tais como OS Motif, X-Windows, etc.; mas eles são pouco conhecidos fora do mundo das workstations RISC de alto desempenho, geralmente concentradas nas universidades e nos centros de computação das empresas.

Isso está mudando gradualmente, entretanto. Embora eu duvide bastante que o UNIX venha a dominar o mercado da microinformática, devido basicamente ao predomínio mercadológico da Microsoft, é inegável que o prestígio do UNIX entre os usuários comuns e o número de pessoas que aprendem a usá-lo está crescendo muito. O motivo é muito simples, e se chama Internet. Dou ao leitor o meu exemplo. Até começar a mexer com a Internet, há alguns anos atrás, eu não conhecia UNIX e não tinha a menor intenção de conhecer. Era simplesmente uma coisa que eu não precisava, mesmo porque os computadores de grande porte que sempre usei na UNICAMP não usavam o UNIX. Entretanto, a Internet é baseada quase que inteiramente em sistemas UNIX, e logo me vi na contingência de ter que aprender pelo menos os comandos mais elementares. Aos poucos, me enfronhando mais na capacidade e potência do UNIX, acabei me encantando com o sistema, como muita gente, e hoje sou um usuário relativamente entusiasmado (o que me desanima são o 1,5 m de estante contendo apenas manuais do sistema...). Até mesmo comprei uns livros de administração de sistemas UNIX, que é o ápice da carreira de um UNIX-maníaco (e infernalmente difícil, pelo que me dizem), que acabarei tendo que ler algum dia.

É isso aí, prezado leitor. Provavelmente existe um UNIX te esperando na próxima curva da vida.


Publicado em: Jornal Correio Popular,Caderno de Informática, 8/12/95, Campinas,
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