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A história do Windows

Renato M.E. Sabbatini

Os ambientes operacionais do tipo Windows ficaram tão comuns nos últimos anos, que pouca gente chega a pensar que eles também têm uma história, tão fascinante quanto qualquer romance de capa-e-espada. Ela envolve gênios, centros secretos de pesquisa, brigas na justiça, espionagem, o mundo rutilante das finanças internacionais, e dinheiro, MUITO dinheiro.

Esse mundo, responsável, mais do qualquer outra coisa, pela enorme popularização dos computadores pessoais, foi agitado recentemente pelo lançamento, hiper-anunciado e aguardado, do carro-chefe da poderosa Microsoft Corporation, a maior empresa de sofware do mundo: o Windows 95. No mundo dos PC s, o Windows 95 "briga", com outros dois concorrentes: o OS/2 Warp, produto desenvolvido e comercializado pela IBM, e o sistema operacional do Macintosh, pela Apple. Embora, em uma primeira comparação, o Windows 95 seja inferior aos seus concorrentes, a Microsoft tem chances praticamente absolutas de dominar o mercado mais uma vez. O OS/2, um excelente produto, tem o problema sério de ter poucos programas aplicativos realmente compatíveis, sendo que a maioria funciona no "modo Windows 3.1", o que é bastante estranho para uma plataforma que deseja se firmar como líder de mercado. Além disso, a IBM cometeu alguns erros de marketing (de novo), como basear a propaganda do OS/2 na afirmação de que ele "já oferece o que o Windows 95 ainda não tem". Uma coisa idiota, pois a frase e a força da propaganda morreram instantaneamente assim que o Windows 95 foi lançado... Quanto ao Mac, a frase de propaganda também se compara com o Windows 95, só que no passado ("o Windows 95 tem o que o Mac tinha em 88"). Também uma idiotice (a resposta é: e daí ? O que ínteressa é que tem...).
 
 

Oprimeiro IBM-PC, lançado em 1981

Paul Allen e Bill Gates, fundadores da
Microsoft, em 1980

Aqui é que entra a interessante história do Windows, que vou resumir para o leitor.

Tudo começou nos anos 70, quando um centro de pesquisas da Xerox Corporation, localizado em Palo Alto, Califórnia, perto da Universidade de Stanford, começou a investigar as interfaces de usuário do futuro. O PARC, como era chamado (Palo Alto Research Center), tinha entre seus pesquisadores verdadeiros gênios e pioneiros da computação, como Alan Kay e Douglas Engelberg. Engelberg liderou o desenvolvimento de uma nova estação de trabalho gráfica, chamada Xerox Star, cujo sistema operacional e interface de usuário eram inteiramente gráficas, baseadas em uma metáfora visual (a organização e a forma de trabalho de uma pessoa em uma escrivaninha). Assim, os pesquisadores do PARC "só" inventaram: o mouse, o sistema de janelas, os menus do tipo "drop-down", e os ícones !

Xerox 8010 Star Information Computer System (1981). Tinha até 6 terminais com 1.5 MB de memória e 40 MB de disco rígido em cada estação. Funcionava em rede. O servidor tinha 600 MB de memória.

Comercialmente, a Xerox Star foi um fracasso. Era revolucionária demais, e foi muito mal divulgada pela Xerox (que, também, não era um fabricante muito conhecido e bem posicionado na área de computadores). O projeto foi arquivado e o PARC quase foi fechado. Mas, o brilho e a genialidade das invenções do grupo de "Doug"Engelberg viraram um mito na comunidade de Informática, e, assim, quando a empresa Apple Computer, fundada por Steve Wozniak e Steven Jobs, resolveu desenvolver o PC do futuro, ela foi buscar inspiração no PARC. A primeira tentativa da Apple, um microcomputador chamado LISA (Local Integrated System Architecture), de 16 bits, incorporava o primeiro sistema operacional baseado em janelas do mercado, e foi lançado mais ou menos na mesma época que o primeiro IBM-PC (1981). Também foi um fracasso comercial. Jobs, então, liderou um processo de reengenharia radical do produto, que levou ao famoso Macintosh, considerado por muitos uma das maiores revoluções da história da Informática, pois integrava de forma absolutamente brilhante a nova interface gráfica, o pequeno tamanho, a alta potência de memória, gráficos de alta resolução e memória, e o marketing competentíssimo. Muito antes do IBM-PC (que usava um sistema operacional muito antiquado, não gráfico, e sem mouse, o não menos famoso MS-DOS), já usava o disquete de 3", por exemplo.

O Macintosh penetrou rapidamente o mercado acadêmico dos EUA, e, em menor extensão, o de automação de escritórios. Mas, foi imediatamente prejudicado pela política aberta da IBM em relação ao seu produto, que permitiu o surgimento dos clones. Em poucos anos, a participação do Macintosh no mercado mundial começou a declinar, indo de 30 %, em seu auge, a menos de 8 %, hoje. Outro erro da Apple foi ignorar a importância do software no futuro. A prova é que o hardware (o computador) fica cada vez menos importante, e surgem gigantes como a Microsoft, dedicadas a um conceito, ao invés de um produto eletrônico.

Uma coisa que nunca entenderei completamente é essa cegueira da Apple. Se ela tivesse também desenvolvido o seu sistema operacional para o ambiente IBM PC, sete ou oito anos atrás, e o comercializasse, o Windows 3 nunca teria surgido e a história da Microsoft provavelmente seria muito diferente. Infelizmente, a Apple apegou-se ao esquema de "sistema proprietário", um filho bastardo do LISA, e que não funciona mais nos dias de hoje. Quis dar uma vantagem ao seu hardware, proibindo os clones e ligando o software ao hardware de forma exclusiva. O resultado: está condenada a mudar, ou desaparecer.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Caderno de Informática, 17/10/95, Campinas,
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