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Um robô no seu futuro ?

Renato M.E. Sabbatini

A simpática família Jetson tem uma empregadinha robótica que é uma simpatia. Faz comida, serve à mesa, passa o aspirador de pó, e ainda encontra tempo para dar uma bronca nos pirralhos que fazem bagunça na casa. E melhor ainda: está sempre bem arrumadinha, não recebe salário, não tem namorado, nunca reclama, e também não precisa descansar, estando disponível para os patrões 24 horas por dia. Quem não gostaria de ter uma empregada doméstica assim ?

Uma das promessas feitas pelos pioneiros da robótica, a ciência que estuda a construção e programação de robôs, é que teríamos, até o final do século, robôs domésticos como a da família Jetson. A palavra robô vem do tcheco, robota, que significa trabalho forçado. É uma dessas palavras criadas a partir da ficção científica, que acabem "pegando" (no caso, uma peça de teatro de autoria de Karel Çapek, de 1921, na qual os empregados robóticos -- "homens mecânicos" -- de uma fábrica se rebelam contra seus donos, e os massacram, assumindo o comando).

O fato é que ainda estamos muito longe, tecnologicamente, de ter um robô com capacidade, inteligência e autonomia suficientes para substituir uma boa empregada doméstica. Existem robôs capazes de passar um aspirador de pó, existem sistemas inteligentes capazes de controlar os parâmetros ambientais de uma casa, como umidade, temperatura, iluminação, etc.; existem até alguns robôs de laboratório que conseguiriam misturar ingredientes de uma refeição e colocá-los no forninho de microondas. Entretanto, não existe nenhum robô que reuna todas essas características.

Os robôs que existem (e em grande quantidade; só o Japão tem mais de 80 mil deles) são os modelos industriais. Entretanto, não são propriamente inteligentes. A única coisa que eles fazem é reproduzir seqüências de movimentos altamente complexos, como agarrar, deslocar, soltar, apontar, tocar, puxar, etc., imitando um membro superior humano, com todos seus "graus de liberdade" (quantas articulações ele tem, e em quantas direções cada uma delas pode se mover). Numa linha de produção de automóveis, por exemplo, ou de placas de circuitos impressos, onde ocorrem processos repetidos e exatos, eles funcionam bem... até que alguma coisa saia da seqüência ou da posição programada (uma placa cair ao chão, por exemplo, ou um componente ser acidentalmente menor). Aí acontece o desastre, pois os robôs industriais, com raras exceções, não são inteligentes, ou seja, eles não tem visão, tato ou audição, para "sentir" o objeto ou problema, nem algoritmos adaptativos (que se ajustam automaticamente à situações inteiramente novas). É só imaginar, por exemplo, o quanto seria infernalmente difícil fazer um robô industrial fazer uma tarefa tão simples (menos para mim) do que quebrar um ovo e fritá-lo em uma frigideira até que esteja "no ponto" para ser retirado e servido. É preciso o sentido da visão para enxergar o ovo, de tato, para a mão robótica não esmigalhá-lo por excesso de pressão ao ser apanhado; de propriocepção (sensores que indicam a posição do braço e dos dedos), de controle delicado para quebrar o ovo exatamente no meio e derramá-lo sobre a frigideira (que deverá estar na temperatura certa), etc., e etc.

Diversas pesquisas realizadas em centros avançados em robótica, nos EUA, Europa e Japão, estão conseguindo dotar os futuros modelos de robôs com um grau mínimo de "inteligência". Por exemplo, um laboratório japonês produziu um robô com visão, que consegue ler uma partitura musical, e interpretá-la ao piano. Outra universidade, na Alemanha, desenvolveu um veículo robótico autônomo, que "navega" através de uma sala cheia de obstáculos, usando um sistema visual com três olhos (os cientistas alemães acham que assim é mais fácil obter cenas tridimensionais do ambiente). Uma empresa comercializa as primeiras mãos robóticas que tem sensação de tato e que regulam automaticamente a pressão exercida sobre os objetos apanhados por ela.

Na realidade, os especialistas concordam que o futuro dos robôs inteligentes está no uso de uma novíssima tecnologia, chamada neurocomputação. Ela faz uso das redes neurais artificiais, que é um tipo de Inteligência Artificial que procura imitar a maneira como o nosso sistema nervoso funciona, ou seja, processando informação complexa por meio de redes de neurônios, a sua célula básica constituinte. Nosso sistema nervoso funciona bem em tarefas complexas como fritar um ovo corretamente porque:


Publicado em: Jornal Correio Popular,Caderno de Informática, 19/9/95, Campinas,

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