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Os telefones do amanhã

Renato M.E. Sabbatini

O setor de telefonia está passando por uma série de revoluções sensacionais, que mudará completamente, até o final do século, o conceito e a operação do velho invento de Graham Bell, que tanto influenciou a civilização moderna. Em todas elas, a Informática é o motor central.

A primeira revolução começou com o rádio-telefone celular, o aparelhinho ubíquo (que está em todo lugar) da década dos 90. Foi o primeiro telefone realmente portátil, miniaturizado, universal e individual. Por trás dessa simplicidade, entretanto, está uma gigantesca infraestrutura, que vai desde centrais operacionais digitais, baseadas inteiramente em computadores, até uma extensa rede de antenas (as estações rádio-base), que servem para criar as tais "células" que dão o nome ao aparelho. Um software muito complexo é usado para localizar onde está o telefone a ser chamado, gerenciar a "conversa" de sinais de controle com as centrais, e mudar a célula a ser monitorizada, toda vez que o telefone móvel passar de uma para outra.

Daqui há alguns anos, o número de chamada do telefone celular será realmente universal. Estão sendo desenvolvidos vários projetos de grande porte, unindo americanos, europeus e japoneses, com o objetivo de cobrir o planeta com um "guarda-chuva" formado por centenas de satélites de comunicação de baixa altitude, que permitirá a chamada instantânea de um telefone situado em qualquer lugar da terra, para outro, sem intermediários. Devido à baixa altitude (300 km, em média), poderão ser usadas antenas parabólicas de apenas 30 cm de diâmetro, de custo muito baixo. Só para comparação, um satélite geoestacionário comum fica a 43.000 km de altitude, e o sinal é muito fraco, exigindo enormes antenas parabólicas para captá-lo. Os satélites de baixa altitude não são geoestacionários (ou seja, voam mais lentamente ou mais rápido do que a rotação da Terra, e não ficam parados sobre o mesmo ponto da superfície terrestre). Porém, como são muitos, existirá sempre um satélite acima de sua cabeça. Sem mudar de telefone, você poderá, literalmente, carregá-lo para qualquer lugar no mundo. O Brasil tem um projeto muito ambicioso nesse sentido, elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos, que envolve oito satélites em órbita equatorial baixa, formando o tal "guarda-chuva" permanente. Será uma época de custos muito baixos de comunicação. Um telefone celular custará menos de 100 dólares, e as tarifas telefônicas internacionais serão bem mais baixas que as atuais.

A segunda revolução, que mal está começando, é a utilização de redes globais de computadores, como a Internet, para intermediar a telefonia de voz. Um programa simples, desenvolvido por uma empresa israelense, está causando sensação. Se você tiver uma placa de áudio, tipo AudioBlaster ou semelhante, um fone de ouvidos e um microfone, é facílimo transformar seu microcomputador em um telefone digital com tarifa internacional praticamente zero. A coisa funciona assim: a sua voz, captada pelo microfone, é convertida para uma seqüência de bits na memória do computador, que pode ser transmitida via modem para a rede Internet, e daí para qualquer lugar do mundo que estiver conectado à rede. Do outro lado, um micro equipado com o mesmo tipo de equipamento pode reconverter o arquivo digital em voz audível novamente. Tudo isso, em tempo quase real, ou seja, funciona como os antigos "walkie-talkies", em que uma pessoa fala de cada vez.

Como nas universidades os usuários não pagam nada pelo uso da Internet, está cheio de gente que descobriu a "mamata", e está usando e abusando do telefone internacional sem pagar DDI. Algumas áreas da Internet, como o Inter-Relay Chat (IRC), uma espécie de conversa em tempo real entre centenas de participantes (geralmente, reconheça-se, para falar "abobrinhas"), já proibiu o uso da telefonia digital, devido aos problemas de enorme gasto de recursos computacionais de transmissão da rede (chamada de "largura de banda"). Aqui no Brasil, onde a Internet apenas engatinha, se comparada com os países mais desenvolvidos (somos apenas 0,4 % da Internet mundial, em número de usuários), a infraestrutura de intercomunicação (o backbone, ou espinha dorsal) opera, em sua maior parte, com linhas de baixa velocidade (9.600 a 64.000 bits por segundo), compartilhadas entre milhares de usuários, simultaneamente. Não dá para fazer telefonia digital. Mas vai dar, quando as linhas forem incrementadas para um milhão de bits por segundo, na fase II, prevista pela RNP (Rede Nacional de Pesquisa).

Frente à proverbial "ishperteza" dos brasileiros, vai ser um festival...


Publicado em: Jornal Correio Popular,Caderno de Informática, 25/4/95, Campinas
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