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Mulheres na ciência

Renato Sabbatini

Marie CurieA participação das mulheres na ciência aumentou muito desde o final da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, a julgar pelos dados da Academia de Ciência dos Estados Unidos, ainda está muito longe de atingir a dos homens, mesmo em países socialmente mais desenvolvidos, como é o caso dos EUA e na Europa.


Um indicador interessante é o galardão máximo da contribuição internacional à ciência, os prêmios Nobel. Se contarmos o numero de premiados de cada sexo desde 1901 até 1992, nas categorias de Física, Química e Medicina, a predominância masculina é esmagadora. Foram 342 homens contra apenas nove mulheres (2,6%). Mesmo se contarmos os prêmios apenas nos últimos dez anos, a coisa não melhorou muito: foram 79 homens premiados contra três mulheres (3,6%). Não existe muita diferença entre as ciências, embora a Física seja mais "Clube do Bolinha" do que as demais (duas mulheres apenas).

Com tudo isso, é pequeno o número de mulheres famosas em ciências (assim como, dizem os machistas, é insignificante o número de grandes costureiras e mestres-cucas de famainternacional!). As mais famosas que nos vêm imediatamente à mente são nobelistas: Marie Curie, sua filha, lréne Joliot-Curie, Barbara McClintock e Rita Levi-Montalcini.

Maria Sklodowska Curie, nascida em Varsóvia, em 18õ7, foi um exemplo de garra e luta e teve a boa sorte de se unir a um marido cientista, Pierre Curie, numa época em que era extremamente rara a presença de cientistas femininas em Física e Química. Com a descoberta da radiatividade natural do urânio, Marie Curie se imortalizou com dois prêmios Nobel. Sua filha, Iréne, também se casou com um físico, Frédéric Joliot, tendo ambos, curiosamente, adotado o nome de Joliot-Curie. Receberam o prêmio Nobel de 1935 pela descoberta do método de produção de isótopos radiativos artificiais por meio de bombardeamento. Iréne foi uma heroína da ciência, pois morreu de leucemia, causada pelo trabalho com radiações nocivas.

Quais são as causas dessa baixa participação de mulheres na ciência? Uma delas é o fato de que o número de mulheres que recebem uma educação superior em ciências ainda é menor do que o de homens. Em algumas áreas, como nas exatas (Física, Engenharia Elétrica, etc.), o número de estudantes masculinos é mais de dez vezes o de sexo feminino. Como o ingresso não discrimina pelo sexo, podemos concluir que há uma certa falta de vocação de mulheres por essas áreas (é só ver o predomínio esmagador de mulheres em outras áreas, como Pedagogia, Psicologia, etc.), Será que o determinismo biológico da mulher, de casar e ter filhos, ainda atrapalha? Não se sabe ao certo.

Estudos feitos nos EUA mostraram que as cientistas mulheres publicam menos, tiram mais períodos de afastamento e, estatisticamente falando, têm menor produtividade do que os homens. Entretanto, isso pode ser devido a fatores culturais, e não biológicos. Existem muitas cientistas casadas e com filhos, com excelente produtividade acadêmica e cargos altos na hierarquia. Já houve varias mulheres reitoras no Brasil, e pelo menos uma delas foi ministra da Educação. O fato é que a situação de paridade educacional sé melhorou para as mulheres muito recentemente, apenas na década de 60. Demorará, portanto, cerca de meio século para as novas condições de acesso das mulheres ao ensino começaram a fazer efeito. Nos EUA, no Japão e na Europa, existem vários programas educacionais especiais destinados a encorajar mais mulheres a tentarem uma carreira em ciências, e muitas universidades dão preferência a mulheres, em igualdade de condições curriculares, para contrato de novos professores. No Brasil não existe nada disso e, em conseqüência, nossa situação é muito pior.

Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 2 de junho de 1994 .

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