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As Maiores Invenções Médicas do Milênio

Renato Sabbatini

Na semana passada escrevi sobre as dez mais importantes invenções do milênio. De propósito, deixei de fora os grandes avanços médicos, pois eles tiveram um impacto igual ou maior do que muitas das invenções tecnológicas, ao diminuir ou eliminar doenças que influenciavam dramaticamente o curso da história da humanidade (inclusive o destino de civilizações inteiras). Eles merecem um capítulo à parte:

1. Antibióticos: De todas as descobertas voltadas ao bem-estar humano, esta foi a que transformou mais profundamente a nossa história, ao livrar-nos da maioria das infecções bacterianas que provocavam grande mortalidade no passado, como a tuberculose, a pneumonia, a meningite, a sífilis, a crupe, a gangrena, e outras. A partir da penicilina, descoberta ao acaso pelo médico inglês Alexander Fleming, em 1928, tornou-se uma grande indústria na Segunda Guerra Mundial. O médico e divulgador americano Charles Thomas, em seu livro "The Last Science", disse que a medicina só se tornou ciência verdadeira a partir dos antibióticos. Antes deles, era boa no diagnóstico das enfermidades infecciosas, mas entregava o seu tratamento a Deus&

2. Vacinas: Juntamente com os antibióticos, foi a descoberta médica que mais salvou vidas e que aumentou a longevidade média humana em algumas décadas, ao prevenir que bilhões de crianças e adultos fossem afetados por doenças que devastaram a humanidade, como a varíola (a primeira doença natural extinta pela mão do homem), a febre amarela, a febre tifóide, a poliomielite (desenvolvida por Jonas Salk, em 1954), o tétano, a raiva, e tantas outras. E, ao contrário dos antibióticos, aos quais as bactérias podem se tornar resistentes, as vacinas, usadas praticamente primeira vez pelo médico inglês Edward Jenner, em 1796 (descobridor da vacina contra a varíola), são sempre efetivas. Também são as únicas armas para previnir doenças causadas por vírus. Quem sabe uma vacina salvará a humanidade de seu mais temível espectro, a AIDS?

3. Anestesia: a luta para vencer a dor sempre foi uma prioridade para a medicina, desde Hipócrates. Imaginem fazer uma cirurgia cardíaca de quatro horas de duração sem anestesia: seria impossível. Por isso é fácil ver como essa foi uma das mais importantes descobertas/invenções médicas de todos os tempos. Como as demais, é muito recente: apenas em 1846 que o dentista americano Thomas Green Morton usou o éter pela primeira vez para fazer extrações dentárias e cirurgias na cidade de Boston.
 
 

 
 
Joseph Lister, inventor
da antissepsia.
Alexis Carrel, inventor da
cultura de tecidos e órgãos

5. Transplantes: A transfusão de sangue e o transplantes de órgãos, como os rins, córneas, pele, ossos, medula, coração e fígado, tornaram-se possíveis a partir das descobertas do cientista americano Alexis Carrel, nos anos 20s, que descobriu como manter tecidos vivos fora do corpo, por cirurgiões que desenvolveram as técnicas cirúrgicas e pós-cirúrgicas, como o Dr. John Murray, da Universidade Harvard (transplantes de rim) e o famoso Dr. Christiaan Barnard, que fez o primeiro transplante cardíaco na África do Sul, em dezembro de 1967. O futuro dos transplantes reside nas técnicas homólogas, utilizando a engenharia genética para fabricar cópias perfeitas dos nossos próprios órgãos, a partir de células-tronco (células embrionárias precursoras de todos os tecidos).

6. Microscópio: é, seguramente, o instrumento mais importante da história da medicina, tanto na pesquisa e ensino, quanto no diagnóstico clinico. Sem ele não seria possível a bacteriologia, a histologia (estudo dos tecidos orgânicos) e a patologia (estudo das bases orgâncias das doenças). A partir de Antonie van Leeuwenhoek, o cientista holandês que notabilizou o uso do microscópio, no século XVII, tornou-se a ferramenta básica da pesquisa médica, sendo usado por grandes nomes como Pasteur, Koch, Virchow, e muitos outros. Depois do microscópio óptico, surgiram na segunda metade do século XX outras invenções muito importantes, como o microscópio eletrônico, o microscópio de varredura, e o microscópio de forças atômicas.
 
 
Antonie van Leeuwenhoek
inventor do microscópio
Microscópio de
van Leeuvenhoek

7. Radiografia: uma das mais espetaculares e influentes invenções, o aparelho de radiografia, pelo físico alemão Wilhelm Röntgen, em 1895, revolucionou a medicina ao permitir que os médicos obtivessem imagens não invasivas do corpo dos pacientes, ou seja, sem precisar abri-los. Milhares de diagnósticos se tornaram poss&iac face=Arial,Helvetica>por Röntgen

8. Tomografia Computadorizada: entre as grandes invenções médicas, esta é a única feita pela engenharia, e também teve um impacto significativo sobre a medicina moderna. Em 1968, os engenheiros Godfrey Hounsfield e Allan Cormack, descobriram que podiam obter imagens de raios-x na forma de "fatias" transversais do corpo humano, com alta resolução. Ganharam o prêmio Nobel por esse feito, que exige o auxílio de um computador e complexas técnicas matemáticas. Outras formas de tomografia foram posteriormente desenvolvidas, aumentando o arsenal de sofisticadas técnicas de imagens anatômicas e funcionais à disposição do diagnóstico: em 1971, Raymond Damadian desenvolveu a tomografia de ressonância nuclear magnética (MRI) e em 1978, Louis Sokoloff inventou o tomógrafo de emissão positrônica (PET). Os aparelhos de ultrassom também foram um grande progresso na área de imagens médicas não invasivas neste século.

9. Pílula anticoncepcional: pode ser usada para tratar doenças, mas sua invenção teve enorme impacto social, ao liberar centenas de milhões de mulheres do fardo da gravidez indesejada. Isso incentivou o desenvolvimento de uma nova classe de mulheres profissionais nas sociedades modernas, e foi uma das prováveis causas da "revolução sexual" dos anos 70s, ao permitir o sexo fora do casamento sem medo da gravidez. A pílula foi desenvolvida por dois médicos americanos entre 1950 e 1955, Gregory Pincus e Carl Djerassi, incentivados pela feminista e ativista social Margaret Sanger (que inventou o termo "controle do nascimento") e Katharine McCormick, uma rica herdeira industrial, que financiou a pesquisa que levou, dentro de uma década à comercialização do primeiro anticoncepcional oral. Chamava-se Enovid e foi colocada no mercado em 1961, pela Searle.

10. Terapia gênica: Cada ser humano carrega em média seis genes defeituosos, que podem causar doenças genéticas ou favorecer doenças causadas pelo ambiente. Cerca de 10% das pessoas desenvolve uma das mais de 2.800 doenças hereditárias conhecidas, ao longo de suas vidas. Por isso é tão importante a terapia gênica, que consiste em evitar ou tratar doenças através da interferência direta no código genético (DNA) contido nas células. É a medicina molecular, uma metodologia extremamente nova, e ainda polêmica, por não ter apresentado resultados consistentes até agora, apesar dos enormes investimentos feitos em pesquisa e em desenvolvimento. Mas ninguém duvida que ela seja o futuro da medicina, a vitória definitiva contra muitas doenças.
 

Para Saber Mais
 



Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,  25/2/2000.

Autor: Email: renato@sabbatini.com

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