Vida por um fio

Aparelhos portáteis fazem exames
cardíacos e respiratórios por telefone

Daniella Camargos


N. Rodrigues
Larissa e seu monitor cardíaco: salva por exame feito na escola

A mineira Larissa Arantes, de 8 anos, foi salva por um aparelhinho que cabe na palma de sua mão. Durante seis meses, ela sentiu palpitações no peito e sofreu de insuficiência cardíaca. Larissa passou por dezenas de exames, mas o tipo raro de arritmia que ela tinha só foi diagnosticado com o uso constante de um monitor cardíaco. A menina dormiu e brincou durante dias sem se separar do apetrecho. Certo dia, sentiu-se mal na escola e acionou o aparelho, que registrou o que se passava. "A arritmia só foi descoberta porque o exame foi realizado no exato momento de uma crise", explica o diretor do Instituto do Coração do Triângulo Mineiro, Roberto Botelho. "A vida dela foi literalmente salva por um fio", diz. Com a doença identificada, remédios apropriados a livraram do problema.

O aparelho utilizado por Larissa é um "registrador de eventos", o principal instrumento do que os médicos estão chamando de telemedicina, um sistema que permite fazer exames sem que o paciente tenha de ir a uma clínica ou laboratório. Monitores portáteis captam algumas das funções vitais do organismo por meio de sensores e armazenam as informações na memória para depois transmiti-las para uma central médica, através de uma ligação telefônica. Em casos de urgência, o médico do paciente é avisado imediatamente e providencia a internação ou o remédio adequado.

A telemedicina foi desenvolvida pelo israelense Yacov Geva, da Nasa, para o monitoramento dos astronautas nas primeiras explorações espaciais da década de 60. Cinco anos atrás, a tecnologia começou a ser usada comercialmente em Israel. No Brasil, o sistema chegou em 1997. Nos últimos dois anos, já monitorou mais de 12.000 pacientes. Atualmente, há cerca de 600 usuários do serviço, que pagam, em média, 200 reais pelo aluguel mensal do equipamento. Os aparelhos fazem exames cardiológicos, pneumológicos e podem ser empregados também em gravidez de alto risco. Nesses casos, o monitor é maior, do tamanho de um computador portátil, e capta, além dos batimentos cardíacos do feto e da mãe, o teor de glicose, a concentração de oxigênio no sangue e as contrações uterinas.

"A telemedicina está revolucionando a prática médica porque reduz o tempo entre o diagnóstico e a prescrição da terapia", afirma Renato Sabbatini, coordenador do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas. Com um aparelho que pesa entre 35 e 315 gramas, o monitoramento cardíaco pode ser feito logo após o primeiro sinal de dor no peito. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o índice de mortalidade entre os cardíacos no país é alto porque a maioria dos pacientes demora em média quatro horas para procurar atendimento. Na telemedicina, o tempo entre o exame e o diagnóstico é de cerca de três minutos. Como 98% dos infartados atendidos em até três horas não morrem, os aparelhinhos podem salvar milhares de vidas.


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