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Mitos e verdades sobre homeopatia

O que você precisa saber sobre o sistema terapêutico criado há dois séculos e que até hoje provoca polêmica

Nicole Ramalho


Estudiosa: 'Na faculdade de farmácia, quis entender os efeitos daquelas bolinhas no organismo'

Quem acompanha o 'Fantástico', programa dominical da Rede Globo, assistiu a uma série de reportagens sobre a homeopatia, colocadas no ar há cerca de dois meses, por causa de um louco desafio lançado pelo mágico norte-americano James Randi, um cético assumido, com site na internet e tudo o mais. Ele ofereceu US$ 1 milhão para quem provasse que os tratamentos homeopáticos realmente funcionam. A incitação fez a TV BBC de Londres convocar uma equipe de cientistas para, sob a supervisão da Academia Britânica de Ciências, a Royal Society, fazer vários testes. O resultado da empreitada? Não foram encontradas provas confiáveis suficientes nem de que a coisa é eficaz nem de que não é. O próprio James Randi declarou que mais e mais pesquisas devem ser promovidas para se chegar a uma conclusão.

Acontece que o sistema terapêutico criado há cerca de 200 anos na Europa até hoje causa discussões acaloradas no meio médico. Mas o fato é que, indiferente às polêmicas, muita gente continua recorrendo a homeopatia, às vezes para tratar doenças que vão e voltam (e não param de atormentar), como as rinites. Consultamos médicos - homeopatas e não-homeopatas - e adeptos para esclarecer o que é mito e o que é verdade entre as afirmações mais comuns sobre a especialidade.

Quem adere à homeopatia não deve fazer tratamentos alopáticos, para não misturar as coisas.
Mito Alopatia é a medicina tradicional, a mais conhecida por todo mundo. Já a homeopatia é um sistema terapêutico criado pelo médico alemão Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755-1843), que trata doenças com substâncias ativas ministradas em doses bem diluídas. Em linhas gerais, a homeopatia propõe que se repense os conceitos de saúde e enfermidade e se baseia, entre outros, no princípio da individualização. Isso quer dizer que cada caso é um caso e o paciente deve ser avaliado não só pelo viés da doença, mas como um todo - emoções incluídas.

Segundo o médico Paulo Rosenbaum, responsável pelo departamento científico da Escola Paulista de Homeopatia, essa especialidade da medicina não se pretende hegemônica e não deve ser encarada como tal. Ou seja, não se propõe a reinar sozinha, substituindo todas as outras terapias convencionais. 'Em alguns casos, é necessário usar apenas medicamentos alopáticos. Em outros, é possível combinar as duas formas de tratamento, para obter melhores resultados', explica Flávio Dantas, médico e professor da disciplina de homeopatia na Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais. Aliás, é bastante comum que as pessoas, mesmo se são adeptas ferrenhas dos remédios homeopáticos, recorram à alopatia sempre que preciso. 'Muitos pacientes utilizam a homeopatia só como terapia coadjuvante. Outros usam medidas alopáticas sem que o seu médico homeopata saiba. Por isso, fica até difícil separar o efeito de um tratamento e de outro', defende Renato Sabbatini, pesquisador e professor de fisiologia e de neurociências da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp).

Alternativa: 'Antes da homeopatia, a cada inverno minha vida se transformava em um inferno por causa das crises de rinite'

Para a homeopatia, as doenças somente surgem quando há um desequilíbrio emocional.
Mito É bem verdade que a homeopatia defende que o desequilíbrio emocional pode provocar doenças. Mas admite que nem sempre ele está por trás de uma enfermidade - e, mesmo quando está, não costuma ser o único fator desencadeador. 'Há as causas alimentares, infecciosas, ambientais (como a poluição), traumáticas e metabólicas', enumera o médico Flávio Dantas.

A homeopatia pode ser considerada uma medicina preventiva.
Verdade 'Mas isso não quer dizer que a pessoa nunca mais ficará doente. O que se constata é que, com o tratamento homeopático, as crises de certas doenças crônicas, como rinite, asma e gripes recorrentes, se tornam cada vez mais raras, chegando a praticamente cessar em alguns casos', explica Flávio Dantas. A farmacêutica Cleudí de Souza Pereira, de 24 anos, constatou isso na pele. Quando cursava o segundo ano de farmácia na Universidade de Guarulhos (SP), ela começou a ter contato com pessoas que se tratavam com homeopatia e se diziam imunes a algumas doenças recorrentes, como a rinite alérgica e a enxaqueca, que a importunavam fazia tempo. No último ano da faculdade, Cleudí teve a disciplina de homeopatia e se encantou de vez com a coisa. 'Comecei a estudar mais o assunto fora da sala de aula e a fazer pesquisas para entender o mecanismo dos remédios homeopáticos. Minha curiosidade era entender os efeitos daquelas bolinhas no organismo. Na época, eu tinha muitas dúvidas e não acreditava muito naquilo.' Mesmo assim, ela decidiu procurar logo um médico homeopata para tentar tratar os tais males que sempre voltavam a atacar. Hoje, dois anos depois e ainda tomando as pílulas, Cleudí raramente é acometida pelas insuportáveis crises de enxaqueca e de rinite.

A homeopatia parece ser eficiente para tratar as doenças crônicas.

Verdade 'As doenças de funcionamento do organismo e as de natureza alérgica quase sempre são tratadas com êxito pela homeopatia', garante o médico Flávio Dantas. Muita gente jura que as bolinhas brancas, como são conhecidos os remédios homeopáticos, funcionam perfeitamente no combate aos males recorrentes. A arquiteta Gisele Conde Toron, de 39 anos, que o diga. Ela procurou um homeopata, pois estava cansada de sofrer com a sua rinite alérgica. 'Quando fui ao consultório, estava no auge das minhas crises. Em todo lugar que eu freqüentava, tinha que espalhar caixas de lenços de papel, pois meu nariz não parava de escorrer', lembra. 'A cada inverno, a minha vida se transformava num inferno, pois a rinite virava gripes terríveis.' Hoje, 15 anos depois de procurar o homeopata, Gisele se sente vitoriosa. 'Posso dizer que não tenho mais rinite.'

No entanto, há um detalhe: os especialistas da área defendem que as bolinhas brancas não servem apenas para a categoria de enfermidades consideradas 'mais simples'. Dizem que até portadores de doenças graves podem obter benefícios se o tratamento homeopático for prescrito como coadjuvante. 'Pacientes com câncer têm na homeopatia um recurso para amenizar alguns sintomas penosos', diz Dantas.



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