A montanha vai a
Maomé
Renato Sabbatini*
Periodicamente a qualidade do ensino médico é
colocada como responsável direta ou indireta por muitos
dos problemas que abalam a credibilidade e o exercício
da profissão no Brasil. Ultimamente tem sido questionada
a criação indiscriminada de novas faculdades de
Medicina. Além disso, notícias constantes na imprensa
sobre erros médicos e processos de pacientes contra
médicos colocam também em evidência a qualidade do
ensino e levam a uma crescente contestação do saber
médico.
As causas parecem ser três: a estrutura
obsoleta e ineficiente de ensino, o tremendo aumento da
velocidade de renovação do conhecimento e as
dificuldades de acesso às formas tradicionais de
informação. Embora a carga didática dos cursos tenha
crescido, os médicos estão se formando com conhecimento
cada vez mais superficial e incompleto. Além disso, a
formação atual é excessivamente paternalista, com grande
e desnecessário número de aulas magistrais, que o torna
dependente do ensino presencial e o impede de fazer mais
cursos extra-curriculares.
Acesso à
informação
Qual deverá ser o perfil
do médico do século XXI e qual será o papel da
informática na sua formação? Como o conhecimento médico
continuará a evoluir cada vez mais rapidamente, o médico
não terá tempo para retornar freqüentemente à academia e
precisa se tornar um aprendiz autônomo, para o resto da
vida. Sua competência profissional e conhecimento
deverão ser recertificados periodicamente,
valorizando-se e incrementando-se a educação continuada.
Para verificar se ele continua a aprender e se esse
aprendizado é efetivo, o diploma deixa de ser vitalício,
ficando sujeito à revalidação periódica, como já
acontece em muitos países. Pelo menos uma sociedade
brasileira, a de Cardiologia, já implementa desde
janeiro de 2000 um sistema desse tipo, mas infelizmente
essa não é uma realidade obrigatória.
Apesar da
boa vontade dos profissionais de saúde em manterem-se
atualizados, o custo e a dificuldade do acesso
tradicional à informação afetam negativamente a educação
continuada, principalmente para os médicos do Interior.
Felizmente, a virtualização do conhecimento por meio de
redes digitais elimina a necessidade do meio físico,
permite o acesso instantâneo e simultâneo a qualquer
parte do mundo, além de buscas por palavras-chave. Esses
recursos multiplicaram milhares de vezes a oportunidade
de acesso à informação, independente da localização
geográfica e com custos reduzidos.
Com as
ferramentas tecnológicas do ensino à distância, a
educação continuada, especialmente, pode ser
implementada em muitas áreas.
A revolução
O acesso via rede possibilita ao
médico participar ativamente e adquirir reciclagem
profissional de alta qualidade, sem sair do consultório,
hospital ou residência. Flexibilidade de tempo, baixos
custos, independência geográfica, individualização do
aprendizado e interação com os professores, são
características da educação à distância via
Internet.
É possível usar os recursos da Internet
para simular praticamente qualquer situação que ocorra
num contexto educacional, como aulas magistrais e
palestras, sessões de tira-dúvidas, discussões de casos
clínicos, exames orais ou escritos, trabalho em grupo,
conversas telefônicas, transmissão de vídeo ou de áudio
em tempo real, ou sob demanda etc. A formação de
comunidades virtuais é resultado direto da facilidade de
intercomunicação virtual e onipresente.
Atualmente,
há uma grande diversidade de cursos de EMC à distância
na Internet. Desde cursos curtos que podem ser
concluídos e avaliados com 3 ou 4 horas de dedicação até
os de pós-graduação completos, com especialização,
mestrado e doutorado. O grau de profundidade e de
qualidade varia muito.
Universidades
virtuais
Já existem várias
universidades virtuais no Brasil. Algumas são consórcios
de universidades reais, como a UVB e a UniRede, outras
são versões virtuais de instituições de ensino reais,
como a Unifesp Virtual, a UniVir e a UNB Virtual. Outras
ainda são “universidades” puramente virtuais, como é o
caso da UV, ou corporativas, como a Universidade Unimed.
As universidades “oficiais”, geralmente oferecem
certificados reconhecidos pelas instituições e, em
alguns casos, pelo MEC. Outro bom exemplo de excelentes
cursos à distância é o da Fundação Oswaldo Cruz
(FioCruz), principalmente na área de saúde pública. No
Brasil também surgiram, desde o início de 2000, vários
sites profissionais criados por empresas como a
Bibliomed, WebSchool, ConnectMed e MedCenter que
oferecem cursos à distância.
Desenvolvido
recentemente e muito interessante, o Consórcio Edumed
para Educação à Distância em Medicina e Saúde reúne
faculdades de medicina e associações médicas, voltadas à
geração e disseminação de conteúdo educacional em vários
níveis, principalmente em EMC. O consórcio criou um
sistema de educação médica continuada baseada em
créditos, ministrado por meio da Web e já oferece vários
cursos em diversas modalidades.
Para que o
médico faça o seu auto-estudo e auto-aprendizado
regularmente existem muitos sites nacionais e
internacionais dedicados ao provimento de informações
profissionais de vários tipos e a cursos on-line. Os
melhores são apoiados por instituições de renome. Entre
os melhores sites americanos temos o Medscape; o
Intelihealth Professional Network, mantido pela
Harvard Medical School; o Medem, da
American Medical Association; o Scientific
American Medicine (Samed); o MDConsult e o CMEweb.
Outro “site” muito bem feito é o Helix. O
Virtual Lecture Hall e o HCN também
são sites completos que oferecem centenas de cursos.
Localizadores de cursos
Na Internet há vários localizadores
de cursos de EMC, o maior deles é o da American
Medical Association. Outros são o SearchCME e o
Current CME Reviews. No Brasil ainda não existe
um localizador desse tipo, mas ao assinar o boletim
eletrônico Edumed News é possível saber o que é
oferecido mensalmente.
Como funciona um curso
pela Web
A maioria dos cursos de EMC
pela Web funciona de maneira semelhante. São
implementados e disponibilizados por meio de um ambiente
de gerenciamento de ensino e aprendizado que contêm
todos os recursos para o aluno estudar, interagir com os
professores, fazer provas, exames etc. Normalmente esses
sites têm informação preliminar sobre os cursos e
formulário de inscrição on-line.
Ensino via tele e
videoconferência
Outro modelo
interessante de educação a distância utiliza a
tecnologia de videoconferência, que permite o contato
bidirecional de vídeo e áudio entre professores e
alunos, com alta qualidade e perfeita interatividade.
Por ser mais cara e permitir a conexão simultânea de um
número pequeno de pontos, o modelo educacional é
diferente da Internet, pois geralmente é baseado em
classes. Os Conselhos Regionais de Medicina do Paraná e
de São Paulo já têm experiência em operacionalizar redes
de videoconferência, o que têm levado conteúdo
educacional aos médicos interessados. A tendência é que
esse modelo cresça cada vez mais.
Mantendo a
qualidade de áudio e vídeo, mas permitindo aulas
simultâneas para um grande número de pontos – o que
reduz consideravelmente os custos – a tecnologia mais
adequada em utilização atualmente é a teleconferência
via satélite. A qualidade de imagem e do som é
insuperável, mas a interatividade é limitada, geralmente
feita pelo telefone, correio eletrônico ou “chat” via
Internet. A empresa Conexão Médica foi pioneira nesse
tipo de atualização profissional e está presente em mais
de 150 hospitais.
O Instituto Edumed criou
recentemente um novo serviço de educação médica
continuada que promete revolucionar o setor. Em parceria
com empresas fornecedoras de conectividade à Internet
via satélite, o sistema utiliza um novo tipo de antena
parabólica bidirecional. Apesar de seu pequeno porte,
permite receber sinal de TV digital e acessar a Internet
através da mesma antena. É ideal para cidades pequenas,
que ainda não têm acesso de alta velocidade (banda
larga).
Atualmente, o Instituto está constituindo
uma rede de franquias, para colocar salas de recepção em
todo o país e oferecer essa estrutura a universidades e
associações médicas interessadas em transmitir
cursos.
Não há dúvidas de que o ensino em saúde
passa por uma crise de identidade e de objetivos, mas
também provocada pela avalanche inexorável do progresso
científico, que inviabiliza os modelos clássicos de
ensino. Entre as inúmeras tentativas de reformar e
revolucionar o ensino médico, o uso maciço de
tecnologias de informação assume preponderância,
exigindo formação do estudante quanto ao seu uso efetivo
e constante. Os recursos possibilitam simular
praticamente qualquer situação no contexto
educacional.
Teleconferência: modelo interativo
que permite a conexão de um número pequeno de
pontos.
Já existem várias universidades
virtuais
no Brasil. Algumas são consórcio de
universidades reais.
* Renato Sabbatini é professor
adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), presidente e fundador do
Instituto Edumed para Educação em Medicina e
Saúde.
SITES COM RECURSOS
PROFISSIONAIS
MedScape: http://www.medscape.com/
Medem: http://www.medem.com/
WebMD: http://www.webmd.com/
InteliHealth Pro: http://www.intelihealth.com/
Scientific American Medicine: http://www.samed.com/
MDConsult: http://www.mdconsult.com/
ConnectMed: http://www.connectmed.com.br/
BiblioMed: http://www.bibliomed.com.br/
MedCenter: http://www.medcenter.com.br/
Sites de
Educação Médica
Continuada
CMEinfo: http://www.cmeinfo.com/
CMEWeb: http://www.cmeweb.com/
CMEcourses: http://www.cmecourses.com/
AMA WebCME: http://www.ama-assn.org/ama/pub/category/2797.html
Fundação Oswaldo Cruz: http://www.fiocruz.br/
HELIX: http://www.helix.com/
MedScape
CME: http://www.medscape.com/
Medical Matrix CME: http://www.medmatrix.org/
Conexão Médica: http://www.conexaomedica.com.br/
WebSchool: http://www.webschool.com.br/
Rede Edumed.Net: www.edumed.net/cursos
RedeMD: http://www.redemd.com.br/
Virtual
Lecture Hall: http://www.vhl.com/
Outros
sites
MEC: http://www.mec.gov.br/
Conselho Regional de Medicina de São Paulo: http://www.cremesp.org.br/
Conselho
Federal de Medicina: http://www.cfm.org.br/
Instituto
Edumed: http://www.edumed.net/
Servidor
de cursos: http://www.edumed.org.br/
Boletim Edumed News: www.yahoogrupos.com.br/group/edumednews
Associação
Médica Brasileira: http://www.amb.org.br/
Associação Médica Americana: http://www.ama-assn.org/
ACCME: http://www.accme.org/
UNIFESP Virtual: http://virtual.epm.br/
UniVir: http://www.univir.br/
UNIREDE: http://www.unirede.br/
UVB: http://www.uvb.br/
Universidade Unimed: http://www.universidadeunimed.com.br/
UV: http://www.universidadevirtual.com.br/
* Sabbatini é
professor adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estatal de Campinas (Unicamp), presidente e
fundador do instituto Edumed para Educação em Medicina e
Saúde