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Viciados em Cibersexo

 

Renato Sabbatini


Um em cada cinco internautas no mundo se dedica com uma intensidade acima do normal à algum tipo de atividade de conteúdo sexual, ou seja, visitar sites pornográficos, "chats" eróticos, sexo virtual, etc.Trata-se de um fenômeno novo, que pode ser um tipo de vício, ou comportamento compulsivo, chamado "adição cibersexual".

Os viciados em cibersexo têm algumas características em comum, como passar cada vez mais tempo plugado na Internet, usar comunicação anônima para realizar fantasias sexuais on-line, etc. Tipicamente, quando confrontado, o viciado nega ter um problema e até fica bravo com a insistência, gerando tensões no relacionamento com seu companheiro(a). A Dra. Kimberly Young, uma das maiores especialistas na área, em seu livro "Caught in the Net" identificou outros comportamentos e sentimentos do compulsivo sexual, tais esconder do companheiro que está tendo encontros sexuais virtuais, sentir vergonha ou culpa por isso, preferir fazer sexo virtual ao real (!), etc. Pessoas anormalmente tímidas em relação ao sexo oposto, que têm dificuldades sérias de relacionamento ou que têm uma imagem corporal distorcida de si mesmos são especialmente vulneráveis à adição cibersexual.

Os psiquiatras que estudam o fenômeno inventaram um modelo psicológico para ele, batizado de ACE: Anonimidade, Conveniência e Escape. A anonimidade elimina a reprovação social a certos comportamentos, como interromper sem justificativas a interação com uma pessoa de que não gosta, e de poder experimentar coisas diferentes de forma segura e sem se revelar ou se comprometer. A maioria das pessoas fica excitada com a anonimidade, e passa a fazer coisas que nunca teria coragem de fazer pessoalmente, sem medo de punição! A conveniência é o segundo fator: representa a facilidade, rapidez, custo baixo, e a interação à distância sem todos os preparativos, riscos e gastos de tempo, esforço e dinheiro dos encontros reais. Finalmente, o terceiro componente do modelo, o escape, explica o mecanismo básico da compulsão cibersexual: é a fuga da tensão mental e emocional que a nossa sociedade repressiva normalmente associa ao sexo. Uma mulher que gosta muito de sexo sente-se liberada da repressão e do estigma social; um homem que tem medo de falhar sexualmente num encontro real, sente-se liberado dessa tensão emocional ao fazer sexo pela Internet ou pelo telefone. A gratificação sexual obtida não é tão importante nesses casos, mas sim o escape emocional que a interação virtual proporciona.

Existe até tratamento para o vício do sexo pela Internet, embora eu suspeite que muita gente não deseja ser tratada!



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 9/7/99.
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