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Bioinformática, a profissão do futuro

 

Renato Sabbatini

Nos últimos anos, as seções de oferta de empregos na área biomédica têm estado lotadas de anúncios à procura de um profissional ainda desconhecido da maioria das pessoas: o especialista em bioinformática.

Esta é uma ciência novissima (existe há menos de 10 anos), que tem como objetivo desenvolver e aplicar técnicas computacionais no estudo da genética, da biologia molecular e da bioquímica. Entre outras coisas, ela é essencial para a construção de bases de dados contendo informações sobre os genes e proteínas dos organismos vivos, para a descoberta de novos genes, e de novos medicamentos. Usando alta tecnologia, o bioinformata é muito valorizado pela crescente demanda e pelo ainda pequeno número de pessoas capazes de preenchê-las. Os maiores empregadores são as universidades, empresas farmacêuticas e de informática, institutos de pesquisas privados e do governo. Os salários iniciais são altos, e um especialista com muitos anos de experiência pode ganhar muito dinheiro, particularmente nos grandes laboratórios multinacionais.

O verdadeiro oceano de dados que está sendo gerado por projetos como o Genoma Humano, e a expansão no setor de biotecnologia médica, são os principais responsáveis por esta explosão na demanda por bioinformatas. Existem hoje grandes repositórios de dados genéticos e bioquímicos, como o GenBank (que contém todas as seqüências de DNA conhecidas até hoje e que ocupa o equivalente a mais de 100 CD-ROMs). O Projeto Genoma Humano, por exemplo, tem como objetivo descobrir o código genético dos cerca de 80.000 genes humanos e utilizar esse conhecimento para tratar doenças genéticas.

Onde encontrar um bioinformático, ou como formá-lo? Ë uma tarefa ainda bastante difícil. Geralmente é um biólogo ou médico que tem grandes conhecimentos de informática, genética e bioquímica. Quase não existem cursos sobre esse tema, e a maioria dos profissionais da área é autodidata. Antes de tudo, é preciso ter uma cabeça interdisciplinar, ou seja, ter múltiplos talentos, tais como matemática, estatística, computação, instrumentação e bioengenharia, genética, biologia, etc.

O Brasil também se ressente da falta desses profissionais, embora já estejamos embarcados em projetos genômicos grandes e multi-institucionais, como o Genoma da Xylella fastidiosa (um microorganismo que ataca os laranjais, causando a doença chamada "amarelinho", de grande importância econômica para o estado de São Paulo) e o Projeto Genoma e Câncer, ambos da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que montou uma organização para o sequenciamento genético (ONSA).

A universidade precisa urgentemente se movimentar para formar esse profissional crucial para a medicina do próximo século! No exterior (como na Baylor University, no Texas), já existem até cursos em nível de graduação sobre bioinformática. E aqui? Tirando uns poucos centros, como o da UNICAMP (Grupo de Biologia Computacional do Instituto de Computação, Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética, Núcleo de Informática Biomédica), estamos ainda no começo. Mas, sem dúvida, é a profissão do futuro.

 

Para Saber Mais

 


Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 1/5/99.
Jornal: Email: cpopular@cpopular.com.br
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