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Psicoterapia pela Internet

Renato Sabbatini

Depois da invenção do IRC (Internet Relay Chat, um protocolo que permite o diálogo on-line de um grupo de pessoas ligadas à Internet), não demorou muito para alguém inventar um uso para ele em psicologia. Surgiu, então, a psicoterapia pela Internet. Afinal, o que muitos terapeutas fazem é simplesmente conversar com o paciente. É um intercâmbio de informação. É diferente da medicina (com exceção da radiologia, talvez, mas essa é uma outra história), pois o médico dificilmente consegue fazer um diagnóstico e encaminhar uma terapia sem ver o paciente, examiná-lo fisicamente, etc.

Mesmo se o psicólogo ou psiquiatra fizerem questão de olhar para o paciente (a comunicação não-verbal é um componente importante do processo), já existem os videochats e videoconferências, usando programas como o CUSeeMe, Microsoft NetMeeting, etc. Assim, o contato direto entre paciente e terapeuta tornou-se uma realidade palpável, e começaram a surgir os primeiros serviços de psicoterapia pela Internet. Um dos exemplos mais sérios é Psychotherapy On-Line (http://www.psychotherapy-online/).

A terapia on-line é boa ? Depende. Existem muitas coisas a seu favor. Por exemplo, o paciente pode morar em uma área onde não existem especialistas disponíveis, ou eles são muito caros. Pode ser que o paciente também esteja imobilizado por algum motivo, o que torna a terapia tradicional muito difícil. Um outro motivo é quando o paciente deseja um certo distanciamento (ou anonimato) em relação ao terapeuta, ou apenas deseja testar como é uma terapia, antes de começar a fazer algo mais sério, na linha do contato pessoal. O preço realmente é bem mais barato. Por exemplo, o serviço citado acima cobra US$ 100 por mês para um contato diário entre o paciente e o terapeuta, usando correio eletrônico. A terapeuta garante uma resposta dentro de 48 horas (esse é o preço que um terapeuta brasileiro cobra por hora de consulta face a face !). Usando um meio interativo exclusivo (chat, por exemplo), o preço é de 25 dólares por meia hora.

Mas, na maior parte das vezes, o que as pessoas querem é apenas informação que permita um senso maior de orientação a respeito do seu próprio problema. Por exemplo, na UNICAMP temos há mais de um ano um serviço de aconselhamento e resposta a dúvidas de pessoas leigas sobre medicina e saúde, chamado "Pergunte ao Doutor" (http://www.nib.unicamp.br/svol) e que é ligado à revista Saúde & Vida On-Line (um dos três melhores sites de saúde no Brasil, de acordo com o prêmio Internet World Best 1997). Mais recentemente, o Núcleo de Informática Biomédica da universidade inaugurou um novo e interessante serviço nessa linha, denominado "Sexo: Tire Suas Dúvidas" (http://www.epub.org.br/cm/sexo/home.htm). Ele foi criado pela psicobióloga e pesquisadora associada do NIB, Dra. Silvia Helena Cardoso, e se transformou rapidamente em um dos maiores sucessos populares da Internet (quase 1.500 acessos em um mês). O serviço conta com um corpo de consultores especializados (urologistas, sexólogos, neurocientistas), que respondem gratuitamente a algumas das perguntas mais interessantes enviadas pelos usuários. Conta também com uma biblioteca de artigos sobre vários temas de sexualidade, uma relação de livros, sites na Internet, etc. A criação do serviço foi inspirada pela impressionante resposta dos leitores da revista Cérebro & Mente, também editado pela Dra. Cardoso, a um artigo que ela escreveu intitulado "Como o Cérebro Controla o Comportamento Sexual" (http://www.epub.org.br/cm/). Quase 10 mil leitores acessaram o artigo em seis meses, e uma enxurrada de questões pessoais começou a invadir nossas contas de email.

A efetividade da terapia on-line ainda não foi estabelecida com certeza. Por via das dívidas, o Conselho Regional de Psicologia de São Paulo proibiu formalmente os seus associados de exercerem esse tipo de atividade, e alertou os consumidores quanto aos riscos de comprarem esse tipo de serviço, principalmente quando existem tantos "picaretas" sem nenhuma qualificação fazendo isso pela Internet.

O certo, entretanto, é que mais informação só pode fazer bem, quando os especialistas consultados têm renome e competência. A universidade brasileira pode fazer muito, usando essas tecnologias, principalmente possibilitando o acesso à pessoas que necessitam desesperadamente de um conselho, e têm limitações econômicas, geográficas ou outras para achar alguém que os ajude.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 9/6/98.

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