Indice de Artigos

O milênio da informação

Renato Sabbatini

Desde 1970, quando começou a discussão sobre a "sociedade da informação" (um termo introduzido pelo sociólogo francês Jean Nora, em seu livro de mesmo titulo), sabe-se que está ocorrendo notáveis transformações na maioria das sociedades desenvolvidas, tanto do ponto de vista social quanto econômico. Um país avançado como os EUA, por exemplo, começou como uma sociedade agrária (economia baseada na agricultura, mas também como ela era politica- e estruturalmente organizada), depois virou uma sociedade industrializada (pegando carona na Revolução Industrial iniciada na Inglaterra, e tornando-se a maior potência industrial do planeta, principalmente depois da II Guerra) e finalmente, uma sociedade baseada na tecnologia da informação (e está apenas no começo dessa nova revolução).

O que aconteceu com os países intermediários e subdesenvolvidos ? Eles sempre vêm atrás dos desenvolvidos, em matéria de acompanhamento dessas transformações. O Brasil ainda está na transição agrária-industrial, mas ao mesmo tempo tem fortes componentes da era da informação em andamento. Outros paises mais pobres, como a Bolívia e o Paraguai, sequer ingressaram na era industrial.

No entanto, a Informática tem um poder transformador que faz um país queimar etapas e acelerar seu desenvolvimento. Isso ocorre, por exemplo, com o uso de novas tecnologias educacionais à distância, como o Ministério da Educação brasileiro está fazendo de forma brilhante, com o programa TV Escola e agora o Pro-Info (100 mil microcomputadores nas escolas públicas de todo o país, ligados à Internet).

Reconhecendo o poder transformador das tecnologias da informação, a maioria das agências internacionais de fomentoi ao desenvolvimento estão estabelecendo programas de incentivo e financiamento da expansão e da utilização da Informática em todas as áreas da sociedade. Recentemente, participei como consultor e um dos líderes de grupo de uma dessas iniciativas em nível panamericano, a Informatics 2000 Initiative, promovida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O projeto, que terá 8 bilhões de dólares de financiamento pelo Banco, pretende encorajar a implementação nos setores público e privado, de aplicações que melhorem a qualidade de vida e dêem apoio ao desenvolvimento social e ao crescimento econômico da América Latina e do Caribe (http://198.186.239.117/I2000I/english/engwelcome.asp?sLang=ENG&sHiLow=HIGH).

Este projeto se encontra em estágio de planejamento, com a ajuda de centenas de assessores especializados provindos de vários países, e tem por objetivo identificar a demanda por serviços e produtos de informação na região, desenvolver estratégias e políticas para desenvolvimento do mercado e prover meios para assistência técnica, financiamento e assessoria estratégica.

Inicialmente foram criados vários grupos de trabalho, com o objetivo de trabalhar essas idéias em cada setor de atividade: agricultura, bancos, sociedade civil, educação e treinamento, saúde, investimentos, modernização do estado, políticas e mercado, estratégias de acesso e comércio eletrônico.

Na área de saúde, por exemplo (o grupo para o qual eu trabalho), estão sendo propostos vários projetos muito interessantes e de grande importância para o desenvolvimento dos sistemas de informação na área. Um deles é uma Universidade Virtual de Ciências da Saúde, que oferecerá muitos cursos on-line em todas as áreas de especialização e níveis de ensino. Está sendo proposto também um sistema de prontuário médico (informações clínicas sobre os pacientes) unificado e padronizado, que funcione através de redes de computadores. A telemedicina (transmissão de informações sobre pacientes, imagens, etc., e a consulta médica à distância) é outra área extremamente procurada, e que deve passar por um grande crescimento nos próximos anos no Hemisfério. Muitos dos projetos propostos, como o da Universidade Virtual, serão de iniciativa do Brasil, mas envolverão grande número de países, globalizando a oferta e a demanda.

Se o presidente do BID, Dr. Enrique Iglesias mantiver o nível de investimento prometido, existe o potencial para um grande progresso, alavancado pela tecnologia, na América Latina e no Caribe. O essencial é que a rede passe a ser cada vez mais acessível para todos, inclusive para os menos privilegiados economicamente.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 4/5/98.

Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
WWW: http://home.nib.unicamp.br/~sabbatin Jornal: http://www.cosmo.com.br


Copyright © 1998 Correio Popular, Campinas, Brazil