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Hitler e a IBM

Renato Sabbatini

Na primeira semana de março de 2001, a imprensa de todo o mundo anunciou o lançamento de um livro espetaculoso, pelo americano Edwin Black, elucidando o polêmico papel da IBM na ditadura nazista e no genocídio. O autor demonstra no livro algo que já era conhecido há bastante tempo pelos historiadores, ou seja, que os burocratas nazistas, como quase todas as organizações de peso da década dos 30s, utilizaram as tecnologias mais sofisticadas de informação existentes na época, que eram as máquinas tabuladoras baseadas em cartões perfurados.
Essas  máquinas foram inventadas por um alemão naturalizado americano, chamado Herman Hollerith, no final do século 19, e eram fabricadas e vendidas pela IBM, muito antes de existirem os primeiros computadores.  Já em 1930, empresas como o Banco do Brasil usavam a tabuladora para fins contábeis, e para emitir folhas de pagamento (daí usarmos o termo "holerite" como sinônimo de contra-cheque de salário…).

Em 1910 a IBM se estabeleceu na Alemanha através de uma subsidiária chamada DEHOMAG AG (Deutsche Hollerith Maschinen Aktiengesellschaft), que fabricava toda a linha da empresa. Pelo sua contribuição à indústria alemã, o presidente da IBM, Thomas Watson Jr., recebeu uma medalha de Hitler (a qual ele posteriormente devolveu, quando a Alemanha declarou guerra aos EUA).

As máquinas foram usadas, entre outras coisas, para estabelecer um sofisticado sistema de registro e acompanhamento dos censos de 1930 e 1940, identificando a raça e religião dos alemães. Com isso, o regime ficou sabendo como implementar e registrar a perseguição sistemática de que foram vítimas.

Acho que o autor exagera muito a influência da IBM no Holocausto. O fato dela ter vendido máquinas de sua invenção não quer dizer que ela aprovasse ou apoiasse o Holocausto, mesmo porque ele aconteceu 10 anos depois da IBM ter licenciado as patentes para a DEHOMAG. Eram máquinas de tecnologia eletromecânica relativamente simples, que teriam sido copiadas (ou inventadas) pelos alemães mesmo que a IBM não as tivesse licenciado. A verdadeira causa do Holocausto foram as mentes racistas e pervertidas dos nazistas.
 

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Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 15/2/2001.
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