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O mundo interativo

Renato M.E. Sabbatini

William (Bill) Gates, um dos homens mais ricos do mundo, e um "nerd" com cara de adolescente deslumbrado, apesar dos 39 anos de idade, gosta de brincar na Internet. Entrevistado pela revista Time, Bill confessou acessar a Internet todo santo dia, para verificar o que há de novo, e para responder as mensagens de correio eletrónico que recebe do mundo todo; mas que a "Internetmania" atual o pegou de surpresa, assim como, evidentemente, sua poderosa empresa, a Microsoft Corporation, o maior fabricante de software do mundo,. Dai, o jovem Bill começou a ficar preocupado, pois imaginou o que acontecerá com a invejável posição de sua empresa daqui há alguns anos, se seus softwares não funcionarem bem em conjunto com a Internet. Organizou uma reunião com a alta cúpula da Microsoft, e como resultado, a empresa mudou radicalmente seu foco em relação a Internet, que hoje passou a ser uma das suas principais preocupações. A rede internacional Microsoft, codinome Marvel, que tinha sido originalmente planejada para ser um serviço comum de acesso on-line, foi totalmente redefinida, com a finalidade de se integrar a Internet e aproveitar ao máximo o seu potencial comercial.

O ponto principal da nova estratégia da Microsoft é orienta-la ao setor de serviços. Bill Gates deseja tornar cada vez mais fácil, para os usuários de seus softwares aplicativos e do Windows'95, a realização de transações utilizando a Internet (por exemplo, pagar contas, acessar contas bancarias, fazer compras, estudar, etc.). De cada transação realizada por meio de sua rede, a Microsoft planeja tirar uma pequena fatia. Se fazer software já é lucrativo, imaginem isso... Realmente, o homem é muito inteligente. Ao amarrar o acesso a rede Microsoft a cada pacote vendido de Windows'95, Bill Gates terá um mercado potencial de milhões de consumidores aos seus pés. Para facilitar o acesso a rede de qualquer lugar do mundo, a Microsoft está fazendo acordos de cooperação com outros gigantes do mundo das telecomunicações, como a MacCaw Teledesic Corp. (a maior empresa de telefonia celular do mundo), para montar uma rede de satélites de telecomunicação de baixa altitude; e com a companhia TeleCommunications, Inc. (a maior empresa de TV a cabo), para desenvolver sistemas de TV interativa.

Nesse ponto, a Microsoft vai enfrentar muita competição. As grandes companhias de telecomunicações do mundo, como a AT&T (Estados Unidos) e a NTT (Japão) também estão desenvolvendo sistemas de TV interativa. O sistema da Microsoft está sendo testado em 120 casas na cidade de Redmond, onde tem seu quartel-general. A TV interativa usa a fiação de fibra ótica das TV's a cabo, e oferece possibilidade fantásticas de colocar o mundo da computação na grande maioria dos lares dos países desenvolvidos. Para se ter uma idéia do seu potencial, a Time-Warner recentemente demonstrou seu sistema, desenvolvido em parceria com a AT&T. Ele mescla as funções de um computador com as da TV normal. Por exemplo, um gigantesco conjunto de computadores super-rápidos, armazena as versões digitalizadas de milhares de filmes. Usando os controles da TV interativa, o usuário pode selecionar o filme que deseja assistir, e ele é enviado, em tempo real, para sua casa. Diversos controles do aparelho de TV permitem que o usuário veja o filme exatamente como se tivesse um videocassete, ou seja, ele pode interromper o filme por alguns minutos para ir ao banheiro, rebobina-lo, avançar até outro ponto, etc. Pode passar dois ou mais filmes simultaneamente na mesma tela, selecionar os trechos que mais gostou e passa-los de novo, etc. Imaginem o tamanho do computador para fazer isso simultaneamente para centenas de milhares de usuários...

Sendo interativa, ou seja, permitindo que o usuário visualize os programas de TV e entre diretamente em dialogo com eles, as aplicações possíveis são infinitas. Outra delas, com enorme potencial comercial, e o "Shopping Center Virtual". Usando os comandos da TV, o usuário pode "passear" em um shopping center, olhar as prateleiras, apontar o que quer comprar, e pagar o total com seu cartão de credito, sem sair de casa. Havera, também, um grande numero de programas interativos, do tipo "Você Decide", mas em um nível muito maior de sofisticação (ao invés de simples votações sim/não, o telespectador poderá mandar mensagens).

O futuro é brilhante para a Microsoft e as empresas que apostarem nisso. O videotexto prometia exatamente as mesmas coisas, mas não tinha o apelo da TV. Por isso, não deu certo, e morreu (menos na Franca, onde vai bem, obrigado, como um substituto eletrónico das listas telefônicas). Agora, acho que a coisa vai.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Caderno de Informática, 13/6/95, Campinas
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