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Ciência
no jornal
Renato
Sabbatini
Desde
ontem, Campinas sedia o IV Congresso Brasileiro de Jornalismo
Cientifico, com o apoio do "Correio Popular", entre outras
instituições. Este colunista esta participando do mesmo, como
palestrante e como membro da Comissão Técnica encarregada de selecionar
a temática e os trabalhos do congresso. Vou aproveitar, portanto, a
oportunidade para falar um pouco sobre esse assunto, já' conhecido
pelos leitores que me acompanham desde a criação da coluna, há quase
três anos atrás.
Vou
começar contando uma historinha divertida (e real), que ilustra as
dificuldades de se divulgar temas científicos e técnicos complexos para
os leitores de um jornal de circulação diária, o qual, por definição, é
lido por pessoas dos mais variados níveis de educação, conhecimento,
especialização e interesse.
Um
dos maiores cientistas deste século, o genial físico teórico Albert
Einstein, foi uma das primeiras personalidades cientificas a ser
tratadas como verdadeira "estrela" pela mídia. Um dos motivos é que,
mesmo não entendendo quase nada sobre a sua famosa Teoria da
Relatividade, a maioria das pessoas que lia jornais e revistas, na
época, percebia que a descoberta era de uma importância e impactos tão
grandes, que provavelmente iriam alterar toda a nossa concepção de
mundo e de vida. Notem que não se falava absolutamente nada sobre as
possíveis repercussões praticas das teorias einsteinianas, pois as
mesmas não passavam de meras especulações, cochichadas entre cientistas
altamente especializados (falo da energia atômica e das armas
nucleares).
Pois
bem. Na década dos 20, quando Einstein já era famoso e tinha seu nome
conhecido pela população em geral, viajou para os Estados Unidos, a
convite da Universidade de Princeton. Ao descer do navio, no cais de
Manhattan, surpreendeu-se com a quantidade enorme de jornalistas e
fotógrafos presentes, ávidos para dar a Einstein o mesmo tratamento que
a imprensa reservava para Lindbergh, o presidente Wilson, e as estrelas
do cinema. Um dos repórteres, do jornal New York Times, se adiantou e
perguntou ao Dr. Einstein se ele poderia resumir toda a teoria da
relatividade em uma única frase. A pergunta eletrizou todos os
presentes. Microfones e câmara se adiantaram, jornalistas se
acotovelaram e se empurraram, ansiosos para registrar as palavras do
"pai" da idéia. Qual o jornal ou a revista que não adoraria publicar
essa frase? Quem perderia a oportunidade de imprimir uma explicação
curta e fácil de entender, para os seus milhões de leitores comuns?
A
resposta de Einstein foi simples, direta e totalmente anticlimática.
Ele pensou um pouquinho, virou-se para o intrépido jornalista, e
disparou, em seu carregado sotaque alemão: "Não!!".
Está
ai, expressa nesta pequena anedota, toda a dificuldade que os
cientistas e jornalistas especializados encontram para escrever sobre
ciência para o publico leigo: encontrar uma formula para comunicar de
forma simples, compreensível e interessante, em um espaço o mais curto
possível. Devido à grande complexidade da ciência moderna, isso esta
cada vez mais difícil de conseguir. Muita gente boa, aliás, acha que
são objetivos incompatíveis entre si, o que faz incontáveis cientistas,
e um numero ainda maior de jornalistas, fugirem da área da divulgação
cientifica como o diabo foge da cruz.
Entretanto,
e necessário insistir. Um levantamento recente mostrou que o publico
leitor de revistas e jornais coloca os temas científicos e
tecnológicos, principalmente aqueles que têm a ver com seu dia-a-dia
(Informática, por exemplo) como um dos que mais atraem o seu interesse.
Entretanto, menos de 2 % das matérias publicadas na grande imprensa
brasileira se referem a esses temas. Por que será?
Publicado
em: Jornal
Correio
Popular,
Campinas, 31/3/1994.
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