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Genialidades tecnológicas

Renato Sabbatini

No dia 14 de março último, o presidente Bill Clinton anunciou os cinco cientistas e empresas premiados com a Medalha Nacional de Tecnologia de 1999, um dos mais cobiçados e importantes reconhecimentos públicos do governo americano em relação aos "heróis" da nova era e da nova economia. Seguindo uma concepção tipicamente americana, a distinção não reconhece apenas as personalidades por trás de grandes e revolucionárias invenções ou inovações tecnológicas, mas também o potencial econômico das mesmas, pois elas são o "motor" do espetacular domínio dos EUA na riqueza mundial.

Interessantemente (mas não surpreendentemente&), todas os premiados, menos um, fizeram suas contribuições na área da informática e das redes de computadores. Dois dos premiados estiveram diretamente envolvidos na revolução da Internet: Glen Culler e Robert Taylor. Culler, um pesquisador da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, foi o inventor do primeiro terminal interativo de computadores, ao qual ele deu o sugestivo nome de "teleputer", nos anos 60s. Como os modernos terminais, assim como todos os microcomputadores que vieram depois dele, tinha um monitor de vídeo gráfico, e um teclado alfanumérico, que foi o predecessor dos teclados atuais. Culler montou uma sala com vários desses terminais ligados a um computador central, e os usava para ensinar matemática aos seus alunos. Hoje isso pode parecer banal, mas era uma coisa fantástica na época. A repercussão econômica é dada pelo fato de que o próprio Culler e seus ex-alunos foram responsáveis por iniciar mais de 30 empresas de alta tecnologia.

Já Robert Taylor pode ser denominado o "inventor da Internet". Mais ou menos na mesma época que surgiram as primeiras redes de computadores, como as de Culler, Taylor era o diretor de computação da ARPA, a fabulosa Agência para Projetos de Pesquisa Avançada do Ministério de Defesa americano, que, em plena "guerra fria", despejava bilhões de dólares em financiamentos de pesquisa nas universidades americanas, com e sem intuitos militares imediatos. Taylor propôs (e financiou) que três dessas redes de computadores em universidades (entre as quais a de Santa Barbara), se interligassem para compartilhar dados e levar à formação de "comunidades virtuais" de pesquisadores. Essa interligação teve um efeito extraordinário e levou à ARPANet, a primeira rede em nível nacional, com centenas de computadores interligados, e que, mais tarde evoluiu para a Internet, quanto uma "linguagem" comum de intercâmbio foi desenvolvida, o TCP/IP, pelo pesquisador Vicent Cerf e American proclamou que "poucos inovadores podem alegar ter deixado uma marca tão grande nos destinos do mundo".

Outro cientista e tecnólogo premiado pela Medalha Nacional de Tecnologia, Raymond Kurzweil, é um inventor tão prolífico que poderia ser alcunhado de "o Thomas Edison" do final do século. Um homem com um QI astronômico, que além de engenheiro, é também poeta, escritor e músico, Kurzweil se especializou em invenções que utilizam Inteligência Artificial, que é o campo da computação que estuda como imitar o intelecto humano através de softwares. Logo no início de sua carreira, ainda muito jovem, realizou três invenções fundamentais: o primeiro "scanner" de página, baseado em sensores totalmente digitais (CCD), o primeiro software capaz de reconhecer textos impressos, e o primeiro sistema de síntese de voz a partir de textos. Juntando-as, ele desenvolveu em 1974 um leitor de livros para cegos: a pessoa coloca um livro comum aberto sobre a face de vidro de uma máquina parecida com uma copiadora xerox, e o computador "lê" o texto impresso e "dita" o mesmo em voz alta. Foi considerada a mais importante invenção para os deficientes visuais desde o alfabeto Braille, e recebeu numerosos prêmios.

Com seu amor pela música, Kurzweil trabalhou com Stevie Wonder como consultor e desenvolveu o primeiro sintetizador eletrônico capaz de imitar perfeitamente o som e o timbre de vários instrumentos tradicionais, como um piano de cauda. Todos os teclados eletrônicos existentes atualmente devem sua existência às patentes de Kurzweil da década dos 80s nessa área. Por ser poeta, Kurzweil também andou brincando nessa área. Ele inventou um "poeta eletrônico", que é um software que lê e analisa os poemas de autores reais, e depois é capaz de gerar automaticamente hai-kais e outras formas de poema impressionantemente humanos e tocantes. Especialistas em poesia moderna que foram chamados para julgar 28 poemas, sendo 16 criados por esse programa, e 12 criados por seres humanos, tiveram grandes dificuldades em distingui-los. Como fica o conceito de criatividade humana, então? Kurzweil adora manipular essas idéias e provocar os intelectuais conservadores. Escreveu três livros sobre o tema, inclusive um, em 1999, denominado "A Era das Máquinas Espirituais", que parece ter sido feito de propósito para desafiar a filosofia e a religião.

A invenção pela qual Ray Kurzweil ficou mais famoso, no entanto, foi um software capaz de entender a voz humana e transformá-la em texto. Com ele, uma pessoa pode ditar uma carta para o computador e ele será capaz de produzir um texto pronto para impressão. É um feito espantoso de tecnologia. Inicialmente, esse software era caríssimo, e foi comercializado (ainda é) por Kurzweil para aplicações muito especializadas, como os que os radiologistas usam para ditar seus laudos e relatórios quando analisam uma radiografia. Cerca de 60% dos serviços de radiologia dos EUA utilizam esse software. Recentemente, ele lançou no mercado uma versão mais barata e mais popular para PCs, o Voice Xpress Professional.

Ao meditarmos sobre o que representam esses avanços tecnológicos e os homens que estão por trás deles, é inevitável concluirmos que o progresso e a dominância das nações está cada vez mais ligado irremediavelmente à criatividade e ao sucesso no mercado de idéias novas como essas, e à velocidade com que s&ati


Kurzweil Technologies: http://www.kurzweiltech.com/

Kurzweil Cybernetic Poet: http://www.kurzweilcyberart.com/poetry/rkcp_overview.php3
 


Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,  24/3/2000.

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