São Paulo, domingo, 04 de março de 2001


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SAÚDE
Confirmar diagnóstico com outro médico, hábito que começa a se desenvolver no país, contribui para o tratamento
Segunda opinião é um direito do paciente

KÁTIA STRINGUETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Receber um diagnóstico grave, complicado ou raro gera mais que preocupação e angústia. Desperta a dúvida. Nada mais justo, portanto, do que conhecer o ponto de vista de outro especialista antes de começar o tratamento, às vezes doloroso e responsável por mudanças definitivas na qualidade de vida do paciente.
Em outras palavras, nada mais justo do que ouvir uma segunda opinião médica. A prática é habitual em países desenvolvidos. Na última década, está crescendo no Brasil, principalmente entre as pessoas mais informadas e que podem recorrem aos centros avançados de medicina.
Nos últimos três anos, pelo menos três grandes hospitais de São Paulo criaram um serviço capaz de oferecer, de maneira formal, uma segunda opinião para casos de câncer e para eletrocardiogramas (leia matéria nesta página).
Em breve também deve ser lançada uma empresa que se dedicará exclusivamente à prestação desse serviço. A Second Medical Opinion Consultoria e Assessoria de Saúde está contratando especialistas de diversos setores para analisarem históricos e exames de pacientes que desejam confirmar os diagnósticos que receberam.
Mas, em geral, o que a maioria dos pacientes que procura uma segunda opinião faz é consultar outros médicos individualmente.
É um direito do paciente. E uma forma moderna de usar a medicina. Apesar disso, esse comportamento ainda não se tornou rotina no Brasil. "É uma questão cultural", afirma Antonio Carlos Lopes, professor de clínica médica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O país põe o médico numa espécie de pedestal. Discordar dele é visto quase como afronta. O paciente tem vergonha de dizer que quer consultar outro especialista antes de aceitar o diagnóstico. Já o médico não tem humildade para dizer que também tem dúvida. "Muitos médicos, por medo de perder o paciente, sequer cogitam a hipótese de mandar o paciente consultar um colega, como é desejável", afirma Lopes.

Vergonha
Já os pacientes, por vergonha dos médicos, procuram outras opiniões escondidos. "No mundo inteiro, a segunda opinião mais correta é aquela em que o médico encaminha o paciente a um colega e participa com ele da nova análise. Aqui, os pacientes acabam tirando uma opinião média de tudo que ouviram sozinhos", diz Renato Sabbatini, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
A pesquisa de uma segunda, terceira, quarta ou décima opinião pode valer a vida. E até reduzir gastos, por incrível que pareça.
Nos Estados Unidos, por exemplo, planos de saúde têm pago uma segunda opinião para seus conveniados como maneira de otimizar os gastos.
Segundo Sabbatini, antes de decidir por um procedimento caro, as seguradoras querem ter certeza de que ele é, de fato, necessário.
No Brasil, o Ministério da Saúde reconhece a importância da prática. Prova disso é que o departamento de sistemas e redes assistenciais tem um projeto que pretende integrar a segunda opinião ao sistema único de saúde.
A idéia, embrionária, deveria ser encarada com seriedade e colocada em prática o quanto antes.
"Estudos americanos indicam que a segunda opinião aprimora o tratamento e diminui a possibilidade de erro médico", diz Paulo Eduardo Elias, professor do departamento de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A tranquilidade de estar optando pelo tratamento correto é um elemento crucial para a recuperação do paciente. "É importante estar confiante na hora da intervenção. Esse estado de espírito, com certeza, pesa muito no processo de cura."


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